Entrevista: “A luta dos servidores estaduais deve se balizar no tripé respeito, valorização e diálogo”

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Em meio a uma intensa mobilização pela reposição salarial dos servidores estaduais, o Fórum Unificado das Associações e Sindicatos dos Servidores Públicos do Ceará (Fuaspec) elegeu uma nova coordenação em março deste ano, que tem à frente, como coordenadora-geral para os próximos três anos, a assistente social Ravenna Guimarães. Servidora da Prefeitura Municipal de Senador Pompeu (CE), Ravenna também preside o Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado do Ceará (SASEC).

Fala Fisco: O que a motivou a ingressar no movimento sindical?

Ravenna Guimarães: Até pela minha formação profissional, sempre tive consciência de que os direitos da classe trabalhadora são conquistados com muita luta, sobretudo, dos movimentos sociais e sindical. Por isso, desde o dia que tomei posse no meu concurso, me filiei ao sindicato dos servidores do município de Senador Pompeu e, em seguida, me filiei também ao Sindicato dos Assistentes Sociais do Ceará, onde passei a compor a diretoria em 2015. Na gestão seguinte, em 2018, assumi a presidência, a qual estou no segundo mandato.

Você abraçou a missão de coordenar o Fuaspec. Quais princípios norteiam a sua gestão?
Acredito que a luta dos servidores estaduais deve se balizar no tripé respeito, valorização e diálogo. Esses foram os princípios que inclusive cobramos do governador Elmano de Freitas (PT), na coletiva que tivemos no Palácio da Abolição. Uma articulação sistemática entre as entidades que congregam o Fuaspec é fundamental para que possamos traçar estratégias de atuação junto ao governo e pautar nossas demandas. Para tanto, o apoio da base se faz indispensável!

Qual a sua avaliação sobre as mobilizações pela reposição salarial de 2023?
A avaliação da campanha salarial 2023, feita pelas entidades do Fuaspec na última plenária, dia 25 de maio, é que em termos de percentuais a reposição salarial não foi vantajosa, pois foi concedida somente a inflação de 5,8% e ainda de forma parcelada e sem garantir a integralidade do retroativo, que foi somente de 3%. Dessa forma, avaliamos que a conquista foi do tamanho da luta dos servidores, que, infelizmente, estavam desmobilizados. Vale destacar que a campanha salarial 2023 foi deflagrada em setembro do ano passado, quando o Fuaspec apresentou o conjunto das pautas dos servidores a cada um dos candidatos ao cargo de governador. Realizamos uma sequência de atos, entre eles um acampamento de nove dias na porta do Palácio, no final de outubro, com objetivo de sermos recebidos pela então governadora Isolda Cela, para entregar em mãos a pauta da campanha salarial, tendo em vista janeiro ser o mês da data base. Após nove dias de acampamento, fomos recebidos pelo assessor especial da Chefia de Gabinete da Casa Civil, Nelson Martins, que ficou de apresentar nossa demanda para a equipe de transição. No início de 2023, retomamos os atos e fizemos várias manifestações no Palácio da Abolição e na Seplag. Avaliou-se que na MENP não houve negociação, apenas uma imposição do governo acerca da reposição de 2023 com o índice de 5,8%, até então, com zero retroativo e ainda com indicativo de alteração da data base à revelia das entidades do Fuaspec. O caminho para a abertura de uma pequena margem de negociação veio dos parlamentares da Assembleia Legislativa, através de uma interlocução feita pelo deputado Renato Roseno (Psol) junto ao líder do governo, Romeu Aldiguere (PDT), e do deputado De Assis Diniz (PT), que articularam diretamente com o Elmano o pagamento dos 3% do retroativo em 2023, manutenção da data base, bem como a aplicação do índice da inflação de 5,8% também no vale alimentação. Além disso, houve audiência com o Governador na qual foi firmado o compromisso, em live, que no seu governo os servidores teriam ganho real, não apenas reposição, além do compromisso do diálogo permanente com as entidades sindicais, bem como levar para a MENP a negociação das perdas inflacionárias de 37,03% acumuladas desde 2015, para que pudessem ser negociadas ao longo dos seu mandato. As entidades avaliaram como positivo esse compromisso firmado pelo Governador.

O Fuaspec está construindo seu planejamento estratégico. Quais os principais desafios elencados pelas entidades na atual conjuntura?
Tomando por base a campanha salarial de 2023, as entidades já traçaram previamente algumas sugestões e direcionamentos para a campanha salarial 2024, que será objeto de pauta do Planejamento Estratégico, de forma que tal campanha possa ser deflagrada nos meses subsequentes. Os desafios atuais são a ausência de diálogo do governo com os servidores(as) e suas representações sindicais; a desvalorização, por parte do governo, do serviço publico e do(a) servidor(a) público(a), cujo investimento é visto como gasto, e isso se reflete nas condições precárias de trabalho, nos baixos salários e no pouco investimento em concurso público; a inoperância das Mesas de Negociação em dar respostas às demandas apresentadas; o crescimento e fortalecimento da extrema-direita no Brasil, que se refletiu nas eleições e composição das casas legislativas, dificultando o diálogo com parceiros nesses espaços e aprovação de pautas progressistas; a dificuldade de mobilização e participação dos servidores nos atos e atividades sindicais; e a necessidade de uma comunicação sindical mais assertiva, que possa furar a bolha e dialogar não apenas com nossa base, mas com a sociedade de forma geral.

Fonte: Fala Fisco nº 84 (abr-mai-jun 2023)

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