Comércio registrou a maior alta para abril desde o começo da série histórica, com dados a partir de 2000. O avanço ocorreu após baixa de 1,1% em março. À época, a piora da Covid-19 havia causado aumento de restrições a atividades, o que abalou segmentos diversos do varejo. Com o desempenho de abril, as vendas do comércio voltaram a ficar acima do nível pré-pandemia. O patamar é 1% superior ao de fevereiro de 2020.
Em relação a abril do ano passado, houve alta de 23,8%, outro recorde. O crescimento expressivo está relacionado à base de comparação fragilizada. No quarto mês do ano passado, o setor havia desabado em meio aos impactos iniciais da crise sanitária, que provocou fechamento de lojas. Os números divulgados pelo IBGE ficaram acima das previsões do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam queda de 1% no volume de vendas ante março, além de crescimento de 18,2% frente a igual período anterior.
Em 12 meses, o comércio varejista acumulou avanço de 3,6%. No acumulado deste ano, o setor registra alta de 4,5%. Cristiano dos Santos, gerente da pesquisa do IBGE, ressaltou que o crescimento em abril teve ligação com o menor nível de restrições a empresas e consumidores na comparação com março. A reabertura de lojas físicas também provocou efeito no balanço das atividades varejistas pesquisadas.
Houve taxas positivas em sete dos oito segmentos que aparecem no levantamento. A maior alta em relação a março, de 24,8%, foi registrada por móveis e eletrodomésticos. Esse ramo havia despencado 21,3% na pesquisa anterior, sob impacto da piora da pandemia. Tecidos, vestuário e calçados (13,8%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (10,2%) também chamaram atenção em abril.
Com a reabertura de lojas, a maior parte das atividades voltou a ter alta nos negócios, enquanto a movimentação ficou menor nos hipermercados e supermercados. Foi uma espécie de substituição do consumo. “A atividade de hipermercados e supermercados perdeu fôlego para atividades que tiveram em março perdas razoáveis”, frisou Santos.
Segundo a divulgação do IBGE, o varejo ampliado, que inclui veículos, motos e material de construção, cresceu 3,8% em abril, frente ao mês anterior. Em relação a igual período de 2020, houve avanço de 41%. No acumulado deste ano, a alta do varejo ampliado chegou a 9,2%. Em 12 meses, a elevação foi de 3,5%.
Após o impacto inicial da crise sanitária, o comércio apresentou retomada ao longo de 2020. Contudo, o avanço da Covid-19 e a redução de estímulos à economia, na largada de 2021, geraram perda de fôlego nos negócios.
O auxílio emergencial, por exemplo, só foi retomado em abril, com corte no número de beneficiários e nos valores depositados. A volta do auxílio, mesmo que reduzido, incentivou o varejo no quarto mês do ano, aponta o economista Fabio Bentes, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
“Foi o melhor abril da série histórica. É um resultado que surpreende. Esperávamos estabilidade. Dois fatores foram importantes para a alta. O primeiro é o auxílio emergencial. Foi retomado com um valor menor, mas, de qualquer forma, ajudou. O segundo é o aumento na circulação de consumidores em áreas comerciais”, avalia Bentes.
Desemprego e inflação em alta desafiam o desempenho do setor. No primeiro trimestre, o número de trabalhadores desocupados alcançou nível recorde de 14,8 milhões no país, conforme dados divulgados pelo IBGE no último dia 27.
Já o controle da inflação foi ameaçado pela pressão dos preços de alimentos e combustíveis nos últimos meses. Um risco atual é o da energia elétrica, que ficou mais cara na crise hídrica. Diante desse quadro, o avanço da vacinação contra o coronavírus é considerado fundamental para incentivar setores como o comércio, indicam especialistas. A imunização é vista como mecanismo para reduzir restrições a atividades de empresas e elevar a confiança de consumidores.
(Folha Press)