Eram 9 horas da manhã quando os primeiros servidores chegaram ao Palácio da Abolição para participar do ato em defesa do reajuste salarial, convocado pelo Fórum Unificado das Associações e Sindicatos dos Servidores Públicos Estaduais (Fuaspec). No entanto, os trabalhadores foram barrados a um quarteirão da sede do governo, impedidos pelos policiais militares. A ação foi duramente criticada pelos dirigentes dos diversos sindicatos e associações que compõem o Fórum. Eles enfatizaram que, apesar da data base dos servidores garantir a reposição salarial em 1º de janeiro, o governo vem postergando indefinidamente o reajuste. Fazendários e dirigentes do Sintaf marcaram presença.
“Manifesto o meu repúdio ao tratamento dado aos servidores por este governo, que se diz aberto ao diálogo. É desta forma que ele dialoga, nos intimidando com a Polícia Militar e o batalhão de choque, todos armados como se aqui tivessem bandidos? Aqui só tem homens e mulheres comprometidos com o serviço público”, criticou o diretor do Sintaf, Bira Fontenele.
Saúde financeira
A presidente do Sindicato dos Docentes da Uece (Sinduece), professora Sandra Gadelha, lamentou o fato dos servidores públicos estarem pagando, de forma injusta, por uma crise anunciada. “O nosso Estado tem condições, sim – e os dados nos mostram isso – de garantir a reposição salarial, inclusive de forma linear. A nossa luta é justa; nós estamos aqui pelo serviço público, que é direito da sociedade”, afirmou.
Os dados foram reforçados pelo diretor de Organização do Sintaf, Lúcio Maia, que evidenciou os números das finanças públicas estaduais até abril desse ano. “O governo diz que não tem dinheiro para nos dar o reajuste, mas financeiramente o Estado está muito bem. O superávit orçamentário em abril deste ano foi de R$ 1,7 bilhões. Temos mais de R$ 4,2 bilhões em caixa. Ou seja, a reposição que estamos reivindicando pode ser concedida sem o comprometimento dos limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)”, garantiu.
Reajuste é direito
Presente ao ato, o deputado estadual Renato Roseno (PSol) destacou que, independente das posições político-partidárias, o que está em jogo é um projeto do Estado, um projeto de país. “É a tentativa de reduzir o Estado social, reduzir os investimentos e políticas sociais, deixando tudo à mercê do mercado. Quem não tem educação pública vai para onde? Da mesma forma, quem não tem a saúde pública, a segurança pública, a previdência pública, vai para onde?”, refletiu.
“O que está em pauta nesse exato momento é a reposição salarial daquilo que foi retirado já neste governo. Os colegas do Sintaf fizeram as contas; teve superávit. Temos todas as condições de arrancar esses 20% de reposição salarial. Não se pode pedir aos servidores para silenciar diante de reajuste zero. Isto é indigno, isto é aviltamento, é esmagamento das condições de trabalho. Não adianta ir para fora do Brasil e se autoelogiar quanto aos indicadores sociais e de saúde fiscal se não valorizar aquele e aquela que mais contribuiu para esses indicadores”, criticou o deputado.
O deputado estadual Carlos Felipe (PCdoB) também marcou presença na manifestação. Ele defendeu a discussão do reajuste com coerência e responsabilidade. “Temos que lutar em defesa do serviço público. No momento em que vivemos hoje, lutar pelo servidor público é lutar pelo Brasil”, salientou. “Hoje se coloca o servidor como o responsável pela crise na previdência e sabemos que não é verdade. Temos que lutar, sim, por reposição salarial, por concurso público, e vamos continuar fazendo do Ceará um Estado que é destaque em todo o país”, completou.
Resistência
Os servidores permaneceram acampados no entorno do Palácio da Abolição até a noite, aguardando o desfecho da negociação entre os representantes do Fuaspec e o secretário de Planejamento e Gestão, Mauro Filho.
Estiveram presentes, juntamente com a categoria fazendária, os diretores Lúcio Maia, Carlos Brasil, Mauro Bastos, Bira Fontenele, Remo César, Marlio Lima, Jucélio Praciano e Kleber Silveira.