Ibama considera inviável para o meio ambiente instalação de uma usina de extração de urânio e fosfato no Ceará
No rastro da tragédia de Brumadinho (MG), o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) decidiu descartar o processo de licenciamento ambiental da usina de urânio de Santa Quitéria/Itataia, no Ceará. De acordo com um e-mail enviado ao O POVO pela assessoria de comunicação do órgão, o “projeto de mineração de fosfato e urânio foi arquivado em razão da inviabilidade ambiental do estudo apresentado”.
Na última terça-feira, 5, O POVO havia pedido informações à superintendência nacional do Ibama sobre o resultado da análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) e o do licenciamento do empreendimento que beneficiaria material radioativo. Desde 2014, ambientalistas contrários à implantação da usina e o Consórcio Santa Quitéria – formado pela mineradora Galvani e pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB) – esperavam a decisão do órgão licenciador.
Um dos pontos mais criticados por ambientalistas e comunidades que seriam impactadas pela usina é a construção da barragem para o descarte de rejeitos. De acordo com dados do Consórcio Santa Quitéria, a projeção é que os resíduos de urânio alcançariam 90 metros de altura. Já os de fosfogesso (depósito da produção de ácido fosfórico) alcançariam 70 metros de altura.
Segundo dados do processo 02001.005454/2004-24/Ibama, a usina do Sertão cearense produziria, anualmente, 1.600 toneladas de concentrado de urânio e 1.050.000 toneladas de derivados fosfatados.
Em 2014, o Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde da Universidade Federal do Ceará (Tramas-UFC) entrou com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) pedindo anulação do EIA-Rima apresentado pelas empresas. E protocolou no Ibama manifestações da sociedade civil contra o empreendimento.
De acordo com a advogada Talita Furtado Montezuma, do Tramas-UFC, várias irregularidades foram apontadas para os dois órgãos federais. O Ibama chegou a emitir parecer técnico provisório e pediu complementações ao estudo ambiental.
Em agosto do ano passado, houve reuniões entre o Ibama e os empreendedores em Fortaleza e o último parecer do órgão apontava a ausência de viabilidade hídrica do projeto, que pretendia consumir, com a usina, 911 m³ de água nova por hora. Os empresários chegaram a pedir a revisão do parecer.
O Ibama ainda não detalhou o que chamou de arquivamento do processo por “inviabilidade ambiental do estudo apresentado” pelo Consórcio Santa Quitéria. Porém, acabou concordando com pontos da representação que apontam, por exemplo, a “ausência de dados sobre radiação” no manejo do urânio, “subdimencionamento de riscos”, “ausência de efetividade das medidas mitigadoras”, “ausência de comunidades no diagnóstico social” e a “falta de simulação computacional sobre dispersão de poluentes radioativos”.
Adubo
A extração de urânio e fosfato da Usina de Santa Quitéria, no Ceará, segundo o projeto serviria para a fabricação de adubos, fertilizantes e outros produtos químicos.
92,6 milhões de reais é a estimativa de arrecadação de ICMS e ISS para o Ceará com a usina de urânio
Fosfato
Em novembro de 2015, a expectativa do presidente da Indústrias Nucleares do Brasil, Aquilino Senra, era de que a licença prévia do Ibama seria emitida e permitiria a operação da Usina de Santa Quitéria em 2019. A produção de fosfato seria para o Ceará, Piauí, Tocantins, Maranhão e Bahia.