Luiz Carlos Diógenes: Bárbara e Dilma, o futuro é o passado

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“Os donos do poder”, às vezes, mudam de vestes. A estrutura social hierárquica, fossilizada, com um patriarcado hegemônico, não se dobra a ventos democráticos propulsores da universalização da dignidade humana

Os versos de Paulinho da Viola, “quando penso no futuro, não esqueço do passado”, servem de liga à história de duas mulheres brasileiras. Uma, o Tribunal da História e o deus Tempo já consagraram heroína. Antecipou o futuro na consciência do passado. A outra, em foto histórica do passado, soube encarar, com altivez e dignidade, os algozes monstros, pensando no futuro. Está mais viva do que nunca, com promessa, quiçá, de brilhar o céu do Oriente, lançando recursos públicos, dos BRICS, à substancialização da cidadania planetária, em agonia.

Presas políticas! Bárbara, em 1817, no Cariri cearense, sob o jugo português; Dilma em 1964, na ditadura civil-militar. No tempo de Bárbara, o arbítrio masculino existia culturalmente naturalizado. A lei da força não se mascarava na força da lei, como de fato se aplica a qualquer poder despótico. Foi presa pelo poder autocrático, escorado na cooptação ideológica da sociedade civil misógina que se horrorizava com uma mulher tratando de política. Dilma foi presa pela lei da força, travestida na força da lei. “Os donos do poder”, às vezes, mudam de vestes. A estrutura social hierárquica, fossilizada, com um patriarcado hegemônico, não se dobra a ventos democráticos propulsores da universalização da dignidade humana.

Por atuarem abalando os fundamentos éticos, políticos e epistemológicos de um patriarcado misógino, ancorados em verdades morais e científicas, foram execradas pela sociedade tradicional. Bárbara exposta ao espetáculo circense, para apupos da plebe rude, escoltada como criminosa do direito divino real, pelas vilas a caminho de Fortaleza. Dilma, em outro contexto, exposta ao mesmo circo, no estádio Mané Garrincha, com a torcida narcotizada pelo veneno das desinformações, em coro tosco de ignaros, condenando a presidenta em brado uníssono: ”Dilma, vai tomar no c…”.

A farsa de um julgamento político nauseabundo, de horrores dos brutos, é do passado. Porém, cadáver redivivo. Bárbara, em lei de 2014, sancionada por Dilma, renasceu na condição de heroína nacional. A história gosta de se recontar…

*Luiz Carlos Diógenes é Coordenador Regional Adjunto do Sintaf na região do Cariri, Doutor em Direito Constitucional.

Fonte: O Povo

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