Após ser chamado de 'tchutchuca', Guedes explode e sessão da CCJ é encerrada

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Primeiro teste de ministro da Economia na Câmara acabou em briga; oposição centrou artilharia em texto de reforma da Previdência


Adriana Fernandes, Idiana Tomazelli, Lorenna Rodrigues e Renato Onofre, O Estado de S.Paulo


BRASÍLIA – Acabou em briga e troca de palavrões o primeiro teste do ministro da Economia, Paulo Guedes, na audiência pública na Comissão de Constituição de Constituição e Justiça (CCJ) sobre a reforma da Previdência.


Depois de seis horas e meia de sessão com sucessivos bate-bocas com a tropa da oposição, o ministro caiu na provocação do deputado Zeca Dirceu (PT-PR) que o acusou de ser “tigrão” com os aposentados, idosos de baixa renda e agricultores, mas “tchutchuca” com privilegiados do Brasil.


O ataque do petista, filho do ex-ministro, José Dirceu, levou à explosão final de Guedes que reagiu com destempero fora do microfone. “Eu não vim aqui para ser desrespeitado, não. (…) tchutchuca é a mãe, é a avó, respeita as pessoas. (…) Isso é ofensa. Eu respeito quem me respeita. Se você não me respeita, não merece meu respeito”, afirmou.


Zeca começou as críticas perguntando a razão pela qual Guedes começou as reformas com a da Previdência e não alterações que afetassem os banqueiros.


A partir daí, o clima ficou insustentável e o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), teve que acabar com a audiência.  Sem experiência e com apenas 27 anos, ele não conseguiu conduzir com firmeza a audiência. Por pelo menos outras vezes, a alta tensão e a gritaria dominaram a audiência.


O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu depois da sessão. “Chamar um ministro de ‘tchutchuca’ é um absurdo”, afirmou ao Estado. “É péssimo para a Câmara. Paulo Guedes tem dialogado com respeito com o Parlamento”.


Acusado de mentiroso, rentista do mercado financeiro e cruel por querer formar uma “legião de pobres” com a capitalização da Previdência, Guedes partiu para um embate direto com os oposicionistas, com ironias e ataques aos dois governos do PT. 


Um dos momentos mais tensos foi quando os deputados se intrometeram na sua resposta à pergunta do deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) sobre a idade que as empregadas domésticas se aposentam.


Com fúria, o ministro questionou os parlamentares da oposição: “por que vocês não botaram imposto sobre dividendos, porque deram dinheiro para a JBS?”. Se voltando para os parlamentares, Guedes rebateu: “nós estamos há três meses e vocês tiveram 18 anos (de poder) e não tiveram coragem de mudar”.


Houve reação dos deputados atacados por Guedes. Diante da gritaria, Guedes reagiu: “A Casa não está me respeitando. A Casa não me dá o direito de falar”.


Guedes foi em frente com as críticas e disse que eram fake news a informação de que no Chile havia muitos suicídios por conta da Previdência.


O bate-boca recomeçou quando Guedes falou que era caso de internação de que quem não via a necessidade de reforma. O que se seguiu foi nova explosão dos deputados.


No primeiro embate, que levou à queda da Bolsa e alta do dólar, teve como estopim o  sistema de capitalização. Guedes disse aos deputados: “Se quiserem, embarquem seus filhos no avião em que vocês estão e vão acabar como Rio de Janeiro, Minas Gerais”.


A fala do ministro foi recebida com aplausos dos parlamentares governistas, enquanto representantes da oposição gritavam “Chile”, em alusão aos problemas previdenciários pelos quais passam o país, citado como exemplo de sucesso por Paulo Guedes. “O Chile tem quase o dobro da renda per capita do que o Brasil, acho que a Venezuela está melhor”, ironizou.


O ministro então começou um bate-boca com deputados oposicionistas, principalmente com Henrique Fontana (PT-RS), a quem Guedes respondeu: “Deputado, fale mais alto do que eu”.


Com a confusão generalizada – que incluiu deputados homens mandando colegas mulheres “calarem a boca” e outras mulheres saindo em defesa das deputadas atingidas -, Guedes acalmou os ânimos e pediu desculpas.


“Me aconselharam a não reagir, mas tentei ser atencioso. Sou muito respeitoso. Cometi o erro de interagir. Assim que eu interagi, vocês transformaram em outra coisa”, afirmou. “Meu papel é relativamente simples, quem vai julgar são os senhores. Com a maior franqueza, não cabe a mim entrar no debate político. Tenho que dar explicações e não preciso me exaltar, me desculpe”.


O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acompanhou a sessão em vários momentos num gesto de apoio a Guedes, mas não se intrometeu. O líder do governo, Major Vitor Hugo (PFL-GO) teve uma participação tímida sem defesa contundente.


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