A falta de investimentos em grandes obras públicas de desenvolvimento, em razão das dificuldades na economia do Brasil nos últimos anos, está fazendo o setor de construção pesada do Estado enfrentar uma das maiores crises de sua história. Caso a situação permaneça, a expectativa é que 30% das 18 empresas afiliadas ao Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Ceará (Sinconpe-CE) fechem as portas neste ano.
Responsável por executar projetos de infraestrutura e grandes construções, como barragens, túneis e viadutos, a menor participação dessas companhias na economia estadual, que já chegou a 7% do Produto Interno Bruto (PIB), impacta negativamente na geração de emprego e renda em diferentes setores.
Segundo o presidente do Sinconpe-CE, Dinalvo Diniz, a esperança é que o novo governo retome obras que estão paralisadas e faça novos investimentos, ao mesmo tempo em que implemente reformas como a tributária, para aliviar a carga sobre as empresas, e previdenciária, esta necessária para o ajuste das contas da União. Dessa forma, na avaliação dele, o setor pode voltar a ganhar fôlego, principalmente daqui a dois anos.
A recuperação dessa indústria traria impacto positivo em diversas outras áreas, pois a construção pesada consome insumos que vão desde minerais a maquinários. Na área, a criação de empregos é grande, notadamente para trabalhadores de menor escolaridade.
“O setor de construção pesada tem algo em torno de 2,7 mil obras paradas em todo o Brasil, e o dinheiro não existe. Esse é o principal problema. Há otimismo, mas ainda não tem o investimento. Estamos apostando em medidas que devem ser tomadas pelo Governo Federal, mas não são de curtíssimo prazo”, diz.
Heitor Studart, presidente da Câmara Temática de Logística cearense e do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), observa que há pelo menos dez anos não existem investimentos consideráveis em construção pesada no País, mesmo com a alta demanda, o que acaba por nem manter a estrutura existente. “Estamos perdendo mercado e competitividade, por falta de investimentos em logística”, acrescenta.
No Ceará, obras federais de grande porte são poucas, todas atrasadas por falta de verba. “O Anel Viário de Fortaleza é uma que já dura quase dez anos”, exemplifica Dinalvo. Hoje, a principal fonte das empreiteiras cearenses são projetos de construção de estradas estaduais, que receberam aporte do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Além da falta de investimentos estatais, que move o setor, a variação do preço do Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP), com reajustes a cada 15 dias realizados pela Petrobras, onerou ainda mais os empresários.
“Nos contratos, não foram consideradas as políticas de preços da Petrobras. E o Governo quer que compremos asfalto com índice de valores defasados do mercado, o que gera, desde julho de 2017, uma disparidade em torno de 50% para as construtoras, que arcam com prejuízo”, explica o presidente do Sinconpe-CE.
Também diretor técnico da Construtora Beta, Dinalvo conta que tratativas com o Governo do Ceará foram feitas para uma revisão de contratos a fim de ajustar desequilíbrios econômico-financeiros, mas não se chegou a uma resolução.