Reforma da Previdência encontra resistência até mesmo entre aliados

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Prioridade do governo de Jair Bolsonaro, a aprovação deve enfrentar dificuldades mesmo na base aliada


Prioridade do presidente Jair Bolsonaro (PSL), a proposta de reforma da Previdência deve encontrar resistência no Congresso Nacional. Enquanto a oposição quer dificultar o avanço do texto, a base aliada do presidente também está dividida quanto à proposta.


Parte da base aliada do presidente, o deputado federal eleito Capitão Wagner (Pros) afirmou ter posição desfavorável à reforma. “O que eu tenho escutado nos bastidores em relação à reforma da Previdência não me agrada”, explica. A falta de apoio popular à medida é um dos motivos para a dificuldade de aceitação adesão de parlamentares.


Para Wagner, falta a “consciência de cortar da própria carne”. “Em nenhum momento se discute o corte dos privilégios, principalmente dos poderes Legislativo e Judiciário. É muito fácil cobrar de quem ganha salário mínimo e deixar quem tem grandes salários de fora da reforma”, defende.


A deputa federal Luizianne Lins (PT) concorda. “Quando deixam de fora gente da alta burocracia militar e civil e também deixam de cobrar grandes empresas devedoras, torna-se óbvio que se trata de um ajuste a partir de interesses de classe e não da defesa do orçamento público”, critica.


O deputado federal reeleito, Afonso Florence (PT), acredita que o déficit previdenciário deve ser resolvido de outra maneira. “A solução deles é tirar o direito dos trabalhadores, a nossa é rodar a economia e aumentar a arrecadação”. Apesar das projeções, Florence lembra que “a gente tem que conhecer o texto”. “Mas se o texto mantiver a retirada de direitos, como tinha o texto da proposta de Temer, não passa”, aponta.


Capitão Wagner argumenta que esse desconhecimento também é uma questão. “Ninguém sabe como a proposta vem, não tem como você dizer que é a favor sem conhecer a proposta. Então, para a gente hoje é uma incógnita. Ninguém sabe como a reforma vai vir”, ressalta ele.


A estratégia do governo é enviar a proposta para o Legislativo ainda no início da nova legislatura, em fevereiro. “Este é o momento em que o governo tem fôlego político para apresentar medidas de alto impacto. É essa a proposição”, explicou o secretário especial da Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues Junior.


O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que o objetivo é fechar uma minuta antes da viagem de Bolsonaro e Paulo Guedes, ministro da Economia para o Fórum Econômico Mundial, em Davos. “A ideia é que o presidente use a viagem para ler (o rascunho) e se aprofundar”, explicou Onyx. Na volta, a expectativa é que Bolsonaro dê o sinal verde para a apresentação da proposta na Câmara dos Deputados.


Contudo, pelo menos até agora, não é o que vem acontecendo. “Até agora, indo para os seus quinze dias (de governo), não chamou os parlamentares para discutir nem a questão da reforma nem qualquer outro tema. Se está tendo (diálogo) com alguém, eu não estou tendo conhecimento não. Os próprios parlamentares do PSL estão reclamando dessa falta de diálogo”, relata Capitão Wagner.


A reportagem procurou o deputado federal eleito no Ceará, Heitor Freire (PSL), que pediu para “conversar depois” sobre o tema. Os deputados Julian Lemos (PSL) e Joice Hasselmann (PSL) também foram procurados, mas não puderam atender por problemas de agenda.


Capitão Wagner afirma que “apostaria que a reforma não é aprovada”, já que mesmo os aliados do presidente estão divididos. “Muitos deputados da base votarão contra, eu tenho escutado isso. Primeiro por conta da rejeição popular e segundo porque não está tendo essa articulação (com os parlamentares). Hoje, a possibilidade dela ser aprovada é zero”, enfatiza.


 


LUANA BARROS