Por Carolina Mesquita
Com o aumento da escala de produção de placas solares e a abertura de novas empresas do segmento, gerar energia para o consumo próprio está ficando mais acessível. Setor está em ascensão no Estado
Após chegar a gastar cerca de R$ 800 por mês com a conta de energia, o aposentado João Inácio Balensifer começou a procurar opções para reduzir a despesa. A saída foi produzir a própria energia através de placas solares, assim como outros 1,9 mil cearenses que já optaram pela geração distribuída em suas residências.
Para quem quer fazer parte desse grupo, mas acha que o investimento não cabe no bolso, a boa notícia é que o serviço ficou até 30% mais barato nos últimos meses, segundo a empresa Solarity. O alto valor das tarifas de energia tem sido o principal motivo para a adoção das placas fotovoltaicas.
Uma casa de consumo médio-baixa demanda, em média, 250 kilowatts (kW) por mês. Um projeto para produzir esse volume, demanda um investimento que varia de R$ 5,5 mil a R$ 13 mil. Com essa produção, é possível manter uma residência com geladeira, alguns pontos de luz, liquidificação, sanduicheira e ventilador.
João aderiu à tecnologia há dois anos e meio. Consumia, em média, 500 kilowatts (kW) por mês e precisou instalar dez painéis. “Consegui financiamento com o Santander para pagar em três anos e praticamente zerei minha conta de energia logo no primeiro ano, continuando a pagar somente a taxa de distribuição e de iluminação pública”, conta.
Um ano após a instalação das primeiras placas, ele instalou mais alguns eletrodomésticos em casa e viu a conta de energia subir novamente. O aposentado então resolveu dobrar a capacidade, desta vez, pagando à vista. “Por conta dos juros, acaba compensando bem mais pagar à vista. Ao terminar o financiamento, terei pago R$ 5 mil só de juros”.
Atuando também como mestre cervejeiro, ele colocou equipamentos de refrigeração para conservar a fabricação própria, fator que elevou a conta de energia novamente. “Vou ampliar mais uma vez. Estou bastante satisfeito com o resultado. Nunca tive nem que chamar ninguém para realizar manutenção”, revela.
Competitividade
Especializada no segmento, a Solarity já conectou, de janeiro a julho deste ano, o triplo de clientes de todo o ano de 2017. Foram 50 usinas desde a criação, no fim de 2016. “Já temos volume negociado até o fim do ano”, informa o diretor da empresa. Alex David.
David aponta que o custo do kW caiu cerca de 30% de 2017 para cá. “É o que está impulsionando as vendas, juntamente com a estabilidade do dólar que tem ajudado a manter o preço dos equipamentos. O payback (retorno do investimento) tem sido mais rápido”, afirma. O diretor estima que, para produzir 200 kW por mês, seja necessário investir cerca de R$ 8 mil.
Na Eletro Serv, o número de clientes cresceu 40% no primeiro semestre frente a igual período de 2018, segundo o diretor Antônio Pinheiro de Melo Neto. “Temos projetos fechados até outubro e nossos preços têm caído cerca de 20%”, destaca. Para a mesma produção de 200 kW mensais, ele prevê que a instalação custe R$ 9,85 mil, financiáveis em até 60 vezes.
A diretora de projetos da BSolar Energia, Carol Simões, destaca que um dos produtos mais populares é o que produz cerca de 535 kW por mês, a R$ 20 mil. “Por ter uma capacidade maior, acaba saindo por um pouco menos. E dá pra suprir a necessidade de uma casa com dois ares-condicionados, por exemplo, sem ter que ficar preocupado”, afirma Simões. Para um sistema que produz cerca de 270 kW, por exemplo, o investimento seria de R$ 13 mil.
De acordo com o responsável administrativo da Dusol, Francisco Duarte, que começou neste ano, a empresa recebia cerca de 20 propostas por mês, número que hoje passa de 100. “Para ter ideia de quanto custará, pode pegar o valor médio da conta e multiplicar por 26 e 48. Deverá estar nesse intervalo. Mas não é fixo, porque varia o tipo de telhado, localização, incidência de radiação no local”, orienta.
Escala de produção
Além da maior competitividade gerada pelo surgimento de novas empresas, o presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, aponta que a redução dos preços dos equipamentos pode ser explicada também pelo aumento da escala global de produção. “As fábricas estão aumentando a capacidade de produzir os equipamentos e o custo unitário tem caído, além de novos maquinários e processos fabris”, destaca.
Cuidados para escolher empresas
Apesar da redução dos custos para produzir energia elétrica através da IRradiação solar, é necessário o consumidor ficar atento na hora de escolher a empresa que irá realizar a instalação. O presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, alerta que preço nem sempre é tudo.
Ele orienta que é importante os interessados entrarem em contato com, pelo menos, três empresas para pedir orçamento e ter margem para analisar os valores informados.
“Além disso, é necessário estar atento se o equipamento tem o selo do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e, principalmente, as etiquetas internacionais da IEC, entidade certificadora de energia elétrica e que faz os padrões de qualidade internacionais que são seguidos pelas melhores empresas do mercado”, diz.
Sauaia também aponta que é necessária a presença de profissionais, desde engenheiros a técnicos, com formação especializada em energia solar fotovoltaica e com atuação comprovada. “Já existe, inclusive, cursos, especializações e certificações de profissionais que atuam com energia solar fotovoltaica. Também é interessante que a própria empresa seja especializada em placas solares”, ressalta o presidente da Absolar.
Para auxiliar consumidores que não possuem o valor do investimento de imediato, a Absolar realizou levantamento que lista 70 linhas de crédito oferecidas por bancos para esse fim em todo o Brasil, para pessoas físicas e jurídicas.
O Banco do Nordeste (BNB) é uma das instituições que já está com financiamento específico para a geração distribuída. O banco já investiu R$ 4,4 milhões de janeiro a junho no Ceará, através da linha FNE Sol Pessoa Física, em 138 operações de crédito.