Caso o acordo de abertura do mercado da China ao produto brasileiro seja confirmado, produção brasileira de melão deve disparar nos próximos anos, alavancando as exportações do Ceará, aponta maior produtor nacional
Sétimo principal produto da pauta de exportação cearense, em 2018, o melão deverá voltar às primeiras posições em breve com a abertura do mercado chinês ao produto brasileiro. Caso o acordo entre os dois países seja confirmado, a expectativa é de que a produção brasileira de melão possa triplicar nos próximos anos, alavancando as exportações do Ceará, 2º maior produtor nacional. Hoje, a produção de melão ocupa cerca de 20 mil hectares no País, dos quais 90% divididos entre Ceará (5 mil hectares) e Rio Grande do Norte (13 mil hectares).
“A China planta 430 mil hectares, então se ficarmos com 10% desse mercado, a gente está falando de (mais) 40 mil hectares, fechando em 60 mil”, diz Luiz Roberto Barcelos, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e proprietário da Agrícola Famosa, maior produtora de melão do País. “Abrindo o mercado da China, a minha expectativa é que a gente possa triplicar a produção”, diz. A ideia é abastecer o mercado chinês durante o inverno asiático, quando lá não há produção de melão.
Segundo Barcelos, a assinatura do protocolo que autoriza a exportação do melão brasileiro para a China é esperada para outubro e, tão logo seja assinado, o Ceará já poderia enviar os primeiros lotes ao país asiático, com um ou dois contêineres. “Ainda estamos no processo burocrático para ter as autorizações para mandar a fruta para lá. E depois vamos ver a questão logística”, diz o empresário. Para que o acordo seja fechado, falta apenas a conclusão da análise de risco de pragas.
Embora mais de 90% das exportações de melão do Ceará vão para a Europa, Barcelos, que produz na região de Icapuí, diz que quando o acordo for oficializado, haverá uma linha marítima que pode levar a carga à China a partir do Porto do Pecém, perfazendo o trajeto em 34 dias.
“É uma linha que sai da República Dominicana e vai até a China, passando pela África do Sul e por Cingapura. Ela ainda não opera no Pecém, mas quando tivermos carga, eles vão parar aqui”, diz. “E a nossa expectativa é que quando o volume aumentar, a gente possa fretar um navio para ir direto para a China via Canal do Panamá, com 10 dias a menos de viagem. Mas isso num segundo momento”.
Com a conquista de novos mercados, os produtores locais de melão poderão diminuir a dependência que possuem dos países europeus, que, hoje, praticamente ditam o preço do produto. Além disso, os empresários locais também acreditam que ainda há um grande potencial de crescimento a ser explorado no mercado interno, já que o consumo per capita de melão no Brasil gira em torno de 55 quilos, enquanto em países da Europa chega a 120 quilos.
Safra 2019
A colheita para exportação começou em agosto e deve seguir até fevereiro, período no qual a produção nos países do hemisfério norte diminui e a procura pelo melão brasileiro aumenta. Na semana passada, o Ceará ganhou uma nova rota para o mercado europeu, chegando pelo Mar Mediterrâneo. “Essa linha atende aos portos da Espanha, Itália e o Oriente Médio”, diz Barcelos.
Em 2018, o Ceará exportou 86,2 mil toneladas de melão, no valor de US$ 63,0 milhões. Em comparação com 2017, o volume em toneladas cresceu 27%, enquanto o valor das vendas aumentou 18%. No ano passado, a maior parte das exportações do Estado foi para a Holanda (US$ 23,8 milhões), seguido por Reino Unido (US$ 19,8 milhões), Espanha (US$ 12,6 milhões), Emirados Árabes Unidos (US$ 1,9 milhão) e Itália (US$ 1,5 milhão). Para este ano, a expectativa é de manutenção desses números.
Condições hídricas
Mesmo com as expectativas positivas com o mercado internacional, as condições hídricas no Ceará ainda estão desfavoráveis, principalmente devido ao baixo nível do Açude Castanhão, que está com menos de 5% da capacidade. “A produção no Estado não deve crescer neste ano ainda porque a maior parte das áreas produtoras está localizada no Vale do Jaguaribe. E sem a utilização das águas do Castanhão, não é possível viabilizar a produção de melão”, diz Barcelos.
De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Flávio Saboya, os produtores de melão, assim como os de outros segmentos da fruticultura, ainda esperam pela chegada das águas da Transposição do Rio São Francisco, que irá abastecer o Castanhão. “O reservatório não recebeu o volume de água suficiente para manter a disponibilidade hídrica para todos os perímetros de irrigação. E isso vai refletir negativamente na produção deste ano”, diz Saboya. “Além disso, nós vimos que, nos últimos anos, muitos produtores importantes deixaram o Ceará em busca de estados com maior disponibilidade hídrica, o que repercute nas nossas exportações”.
Com 5 mil hectares plantados, a estimativa é que o Estado produza cerca de 150 mil toneladas de melão neste ano. Do total, 60% serão exportado e 40% ficam no mercado interno, sobretudo no Sudeste. Segundo o último Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE, divulgado em agosto, a produção de melão no Ceará apresentou redução na expectativa para o fim do ano, em relação ao relatório anterior. A perspectiva se deu pela dificuldade de acesso à água para irrigação, principalmente na região de Limoeiro do Norte, onde as áreas plantadas foram reduzidas.