O Brasil na crise da racionalidade

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Coluna na Neila Fontenele | O POVO


 


Com quase 30 anos atuando como jornalista na área de economia, tive oportunidade de acompanhar diversas crises. O Brasil quebrou em alguma delas; enfrentou hiperinflação, confisco de poupança, planos econômicos apresentados no meio da noite, crises que apareciam como vendavais, impactando o País. Tivemos o “efeito tequila”, com os problemas do México; fuga de capitais, com a quebra dos chamados “tigres asiáticos”, trazendo impacto no nosso câmbio. Mas a atual crise é diferente.


Trata-se de uma crise da racionalidade. Um processo de involução assustador, com o derretimento das estruturas consideradas basilares para a formação de uma sociedade melhor. A educação é um desses pilares. Na década de 1990, também houve um processo de cortes profundos nos orçamentos dessas instituições, com o sucateamento dos equipamentos, redução de programas de pesquisa, privatizações e outras questões do gênero.


No caso atual, os cortes são mais profundos. Há uma tentativa de interromper as formações que ensinam a pensar. O ataque à Filosofia é um exemplo: base do pensamento, ela representa o chão para os exercícios da racionalidade, livre de qualquer tipo de dogma.


A Economia também se alimenta dessa fonte de saber. Como parte integrante das ciências humanas, ela não possui unanimidade nos seus conceitos. A Economia enfrenta divergências, lutas ideológicas, mas, através de estudos e tentativas de soluções técnicas, busca apresentar saídas. Cortar verbas na educação representa retirar oportunidades. Quem tiver alguma dúvida sobre isso, basta olhar os números de inscritos todos os anos no Enem; ou o destaque dado pelas escolas particulares aos alunos que conseguem entrar em uma universidade pública.


Essa não é somente uma questão fiscal, com corte de orçamento, mas é apresentada quase como revanchismo a um setor que não apoiou o governo. Em um País do tamanho do Brasil, não pode haver espaço para esse tipo de coisa. O País precisa crescer e precisa de estratégias de desenvolvimento, e isso passa pelo ensino e pela pesquisa.