Desafios da indústria cearense: setor mira crescimento no longo prazo

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De acordo com a Plataforma de Desenvolvimento Industrial Cearense, documento elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), que aponta eixos para o desenvolvimento industrial, o setor tem como desafios a promoção das oportunidades de investimento no Estado, o fomento da inovação, a busca por novas estratégias de financiamento e melhoria do ambiente de negócios.

“Tradicionalmente, a indústria cearense esteve ligada a setores fortes, como o da construção civil, têxtil, metalmecânico e outros. Mas esses setores precisam ganhar força e competitividade para chegar a outro patamar. E não podemos chegar lá fazendo as mesmas coisas que vinham sendo feitas”, diz o economista Lauro Chaves Neto, coordenador do estudo e conselheiro federal de economia. “Temos que reforçar alguns pilares, como a internacionalização da indústria, que é uma visão mais ampla que só importar e exportar”.

Na avaliação dos industriais consultados para o estudo, o baixo fluxo de investimentos estrangeiros para o Estado se dá pela pouca integração das empresas locais ao capital estrangeiro, o que dificulta o acesso a financiamentos e transferência de tecnologia, mesmo com a maioria das empresas tendo declarado estar aberta a parcerias por injeção de capital externo.

A Plataforma aponta que o processo de internacionalização da indústria local passa pela diversificação de fornecedores e pela “trinca de hubs” (aéreo, marítimo e de comunicações) que, juntamente com a Zona de Processamento de Exportações (ZPE), podem alavancar a economia local no atual momento em que o real está desvalorizado e há excesso mundial de liquidez. “Esses fatores) sinalizam um enorme potencial para a internacionalização da economia cearense, dependendo das ações que forem implementadas”, diz o documento.

Desenvolvimento

Lauro Chaves cita como outros vetores de desenvolvimento da indústria local estão presentes na inovação, em ferramentas de financiamento industrial e na melhoria da governança corporativa. “Para que tudo isso aconteça, nós precisamos melhorar o ambiente de negócio, melhorando infraestrutura, legislação, gestão de pessoas, com mais centros de formação de pessoas, institutos de pesquisa, escolas técnicas, tudo isso aplicado à realidade da economia moderna”, diz.

Para o economista e consultor internacional Alcântara Macêdo, que participou da elaboração do estudo, a internacionalização da indústria cearense depende de três pilares: projetos atrativos, ambiente de negócios que facilitem a entrada de recursos, com menos burocracia, e estreitamento das relações com instituições de financiamentos internacionais. “Esses três pilares poderiam ser organizados pela Fiec”, diz Macêdo

“Hoje temos taxas de juros negativas no mundo, o que indica que há um grande volume de recursos em busca de rentabilidade. Os recursos do governo, como do BNB ou do BNDES, não são suficientes para atender, por exemplo, ao mercado de energia solar e eólica. No entanto, para obter esses recursos, a gente precisa se mostrar ao mercado internacional, fazer uma promoção maior, para que o nosso parque industrial possa gerar renda, emprego e impostos”, diz Macêdo.

Financiamentos

Segundo o economista Sérgio Melo, da SM Consultoria, a indústria local, assim como a brasileira, se habituou a receber investimentos por meio de incentivos fiscais e econômicos, o que não é mais sustentável no atual momento. “A indústria deve buscar novas ferramentas para a atração de recursos de agências internacionais, aproveitando esse momento de forte liquidez no mercado global. É preciso buscar investidores que estão fora para investir aqui. Mas para isso é preciso termos um programa de projetos. Esse é o caminho para a internacionalização”, diz Melo, que também participou da elaboração do estudo.

Comércio internacional

Hoje, o Ceará ocupa a 14ª colocação no ranking nacional de exportações e importações (em US$), o que representa apenas 1% das exportações e importações brasileiras. Em 2019, a corrente de comércio do Ceará somou US$ 4,622 bilhões, correspondendo a 0,3% sobre o PIB brasileiro e 11% do PIB do Ceará daquele ano. O estudo aponta como um “fator preocupante”, tanto para o Brasil como para o Ceará, o fato de as exportações industriais serem relativamente baixas. “As vendas desse setor são as que têm maior potencial de beneficiar a economia, com impacto de maior peso na geração de empregos, salários, renda e indiretamente nos tributos (cadeia produtiva)”, diz o documento.

Já o economista Alex Araújo destaca a importância dos investimentos em inovação para que haja aumento da produtividade, o que para ele é o “grande desafio” para a indústria, especialmente a de alto valor agregado. “A gente não tem centro de pesquisa e inovação tecnológica, por falta de uma visão integrada e planejada, e isso nos deixa atrás de outros países da zona do euro e outras nações na Ásia, como é o caso da Coreia”, ele diz.

Protagonismo

Na apresentação do documento, Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec, defende o protagonismo da indústria nas decisões que impactam o setor. “Não podemos ficar à mercê de políticas industriais que imputam decisões estratégicas a serem tomadas por nós industriais, sem que, contudo, tenhamos contribuído efetivamente para a sua construção. É mais que hora de ser partícipe, de estar junto, de afirmar com conhecimento de causa, o que de fato nós precisamos para dar vazão à criatividade, à inovação, à energia propulsora, à força de trabalho que lateja em nossa indústria. Os governos passam, mas a indústria permanece”.

Diário do Nordeste

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