Os cearenses vivem com a quinta menor renda do Nordeste, de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (28/02), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No estado, o rendimento domiciliar per capita (por pessoa) da população é de R$ 1.166. O estado cuja renda é a melhor da Região é o Rio Grande do Norte (R$ 1.373), seguido do Piauí (R$ 1.342), Paraíba (R$ 1.320) e Sergipe (R$ 1.218).
No Ceará, a renda per capita equivale a um terço do valor que recebe a população do Distrito Federal (R$ 3.357). No país, o estado que tem o menor valor é o Maranhão (R$ 945). No Brasil, o indicador foi calculado em R$ 1.893 por mês em 2023. Os valores são publicados de forma resumida pelo IBGE em termos nominais sem o ajuste pela inflação. O rendimento domiciliar per capita representa a razão entre a renda domiciliar total e o número de moradores de cada local.
A presidente do IDESE, Marta Campelo, disse que rendimentos baixos da população podem ser relacionados a maiores taxas de pobreza, restrições no acesso a serviços prioritários, como saúde e educação de qualidade, além de limitar o poder de consumo das famílias. “Esse panorama pode afetar de forma considerável a capacidade de atração de investimentos e a geração de empregos, resultando num ciclo permanente de menor desenvolvimento econômico para o estado do Ceará. São diversos fatores que influenciam para que o Ceará ocupe essa posição entre os estados do Nordeste, tais como: políticas públicas, níveis de investimento em infraestrutura e educação, estruturas econômicas históricas, e a capacidade de atrair e reter investimentos”, destacou.
A especialista lembra que para melhorar essa situação é preciso um conjunto de ações estratégicas e coordenadas em diversos níveis. “Investimentos em educação e formação profissional, aumentando a qualificação da força de trabalho, e também atraindo empresas e indústrias de maior valor agregado. Importante investir em políticas de incentivo à inovação e ao empreendedorismo, para estimular a economia local. O estado tem que investir também em infraestrutura básica e de transporte, a fim de facilitar o acesso a comercialização e redução de custos de produção. Vale destacar também a importância das políticas sociais voltadas para a promoção da inclusão social e da redução da desigualdade, garantindo um crescimento econômico e social amplo que traga benefícios para a população cearense”, disse.
Nessa conta, são considerados os rendimentos do trabalho e de outras fontes, diz o IBGE. “Todos os moradores são considerados no cálculo, inclusive os pensionistas, empregados domésticos e parentes dos empregados domésticos”, afirma o instituto. A divulgação atende a uma lei que estabelece os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal. Os dados são repassados pelo IBGE para o Tribunal de Contas da União (TCU). Em 2022, o rendimento mensal domiciliar per capita havia sido calculado em R$ 1.625 no Brasil, também em termos nominais. Ou seja, ao chegar a 1.893 no país em 2023, o indicador teve alta de 16,5%.
Ainda segundo o IBGE, no caso dos rendimentos, “são coletadas as informações referentes ao trabalho em todas as visitas e referentes às outras fontes de rendimento nas primeiras e quintas visitas ao domicílio. Assim é possível compor os indicadores anuais de rendimento de todas as fontes com base tanto nas primeiras visitas quanto nas quintas visitas, sendo a escolha determinada pelo melhor aproveitamento da amostra e outras informações de ordem técnica e prática que venham a ser relevantes no contexto de cada ano”.
Na avaliação do economista Wanderberg Almeida, é importante lembrar que o Ceará é um estado pobre. “Uma boa parcela da sua população vive na extrema pobreza. Somos um estado onde boa parcela da população sobrevive através das transferências governamentais, o que traz um impacto negativo para a economia. Nós não conseguimos reduzir esse grande índice de desigualdade que nós temos dentro do nosso estado. O impacto disso é ruim para a economia, é ruim para o mercado, para os setores de atividade econômica, deixamos de movimentar a economia, de produzir, de investir dentro do nosso estado. E tudo isso acaba gerando um certo desconforto no mercado”, disse.
Ainda segundo ele, alguns fatores contribuem, como educação e baixa qualificação. “Infelizmente, no Nordeste são trabalhos ainda assalariados. Produzimos grandes mestres, doutores, cientistas, mas eles acabam indo para outros estados, então nós temos uma fuga de capital intelectual, o que traz um impacto também negativo para a economia”, explicou.