Por Carolina Mesquita,
Com o encerramento de 313 estabelecimentos, o saldo de abertura e fechamento de empresas no Estado voltou a ficar no vermelho. Para economista, tendência de queda não deve permanecer pelo resto do ano
O Ceará foi o Estado brasileiro que mais fechou lojas do varejo com vínculo empregatício no primeiro semestre de 2019. De janeiro a junho, o setor perdeu 313 estabelecimentos, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
O economista da entidade, Fábio Bentes, aponta que o saldo negativo está relacionado aos resultados locais ruins de venda do varejo nos primeiros seis meses do ano, mas que não deve ser uma tendência para o restante do ano.
Segundo Bentes, o Ceará vinha mostrando uma tendência de melhora desde 2017. “Chegou a ser positivo no segundo semestre de 2018 em 42 lojas, depois de seis semestres com saldo negativo. Agora, voltou a ser negativo – 313 lojas fechadas é ruim, mas na segunda metade de 2015, foram 1.619 lojas fechadas no Estado”, ressalta.
Já o saldo em todo o Brasil, de janeiro a junho, foi positivo com 3.328 estabelecimentos criados. “Esse fechamento no Ceará é muito fácil de ser associado ao comportamento do varejo. Enquanto no País as vendas do setor de janeiro a julho cresceram 1,2% (segundo a Pesquisa Mensal do Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), no Ceará, encolheram 1,1%”, destaca o economista.
Ele acrescenta que, na maioria dos estados do Nordeste, foram observados saldos negativos neste primeiro semestre, o que possivelmente tem relação com a taxa de desemprego. “O mercado de trabalho tem apresentado resultados bastante fracos, principalmente na primeira metade do ano. A perda de força do varejo ao longo desse início de ano ficou muito marcante na região Nordeste e no Ceará”, afirma.
Empregos
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, o comércio fechou 4.704 postos de trabalho no Ceará de janeiro a junho deste ano. O saldo é resultado de 43.228 admissões contra 47.932 desligamentos. No período, o comércio foi o setor que mais fechou vagas de trabalho no Estado.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), Maurício Filizola, ressalta que é preciso aprofundar o estudo e ter noção do porte das empresas que foram fechadas, fator que, segundo ele, interfere diretamente no impacto gerado em termos de faturamento e de empregos no setor.
“É preciso fazer essa análise, porque se tiverem sido encerradas 200 Microempreendedores Individuais (MEI), o impacto vai ser pequeno. Agora, se tiverem sido fechadas cem empresas de porte pequeno a médio, a consequência vai ser maior”, argumenta.
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves, o desemprego causado pelo saldo negativo só não foi maior por conta do equilíbrio das contas do Estado e do Município. “Isso gerou uma segurança para servidores públicos e suas famílias, por exemplo, evitando que a queda no consumo tenha sido ainda maior”, avalia.
Ele pontua que o fechamento de lojas foi puxado pelo setor de confecções, que tem sofrido com os efeitos de alguns casos de concorrência desleal no setor. “O Ceará sempre teve um polo de confecções muito pujante, mas vem sofrendo com alguns fatos que interferiram na condução desses negócios. Toda a cadeia produtiva foi afetada, por isso o impacto foi tão representativo. Só não foi pior pelo equilíbrio”, ressalta Alves.
Expectativa
Na avaliação do economista da CNC, Fabio Bentes, a perda de lojas no varejo cearense não deve ser uma tendência para o restante do ano. “O Estado vinha reduzindo seu saldo negativo ao longo dos semestres. Além disso, teremos liberação de recursos para consumo, como o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), 13º salário e PIS/Pasep. Isso deve fazer não que lojas sejam abertas, mas que algumas adiem o plano de fechamento por conta de um segundo semestre melhor. Então, o saldo do Ceará pode ser positivo, sim, no segundo semestre do ano”, estima Bentes.
O presidente da Fecomércio-CE, Maurício Filizola, também acredita em um segundo semestre mais punjante. “O próprio Governo Federal está trabalhando em medidas que gerarão uma reestruturação e uma consequente melhora na economia de um modo em geral”, diz o presidente.
O presidente do Sindilojas, Cid Alves, também compartilha do mesmo sentimento e estima um crescimento entre 5% e 6% no segmento para o fim do ano. “Nós devemos ter uma evolução totalmente diferente das observadas nos segundos semestres de anos anteriores. Agora, nós temos uma massa de desempregados estável, inflação menor e perspectivas bem mais otimistas para o cenário econômico”, diz Alves.
Taxa de juros
O economista Fabio Bentes acrescenta que a nova redução da taxa básica de juros, a Selic, tende a baratear o crédito para consumidores e para empresários, facilitando a tomada de capital de giro, por exemplo. “No entanto, isso não é uma certeza. Ao longo do primeiro semestre, nós tivemos redução de juros já para o novo piso histórico e as taxas de juros na ponta, ou seja, aquelas que a gente percebe no banco, não acompanharam essa queda, essa estabilidade nova”, pontua.
Bentes ressalta que é importante que o esforço para fazer uma taxa de juros menor tenha uma contrapartida na queda dos juros reais, os juros do dia a dia. “De qualquer forma, inflação está baixa, isso também ajuda o consumo na segunda metade do ano”.