CEARÁ: 55,3% dos trabalhadores são informais

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Informalidade atinge mais da metade da população ocupada no CE


Por Carolina Mesquita,


Ao todo, 55,3% dos trabalhadores cearenses exercem atividades sem carteira assinada ou por conta própria sem CNPJ, segundo dados do IBGE. O Estado é o quarto do País em proporção de informais


Em números absolutos, existe 1,9 milhão de pessoas na informalidade no Ceará.


A procura por recolo-cação no mercado de trabalho tem sido a epopeia de muitos trabalhadores cearenses. Alguns estão nessa busca há anos e, com a crise econômica, a situação ficou cada vez mais recorrente. Uma das saídas para continuar sobrevivendo tem sido a informalidade, seja ela como empregado sem carteira assinada ou como empreendedor sem Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ).


Essa era a realidade de 1,9 milhão de pessoas no Ceará em 2018. O número representa mais da metade (55,3%) de toda a população ocupada no ano passado, que somava 3,6 milhões, conforme levantamento da Tendências Consultoria, que trabalhou com dados monitorados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


O Estado tem a quarta maior taxa de informalidade do Brasil, perdendo apenas para Piauí (58,8%), Maranhão (59,8%) e Pará (61,4%). As regiões Sul e Sudeste possuem as menores taxas. Santa Catarina (27,8%), Distrito Federal (28,2%) e São Paulo (31,6%) registram os menores valores.


Na pele queimada de tanto pegar sol e na aparência um pouco descuidada por não sobrar dinheiro para esse “luxo”, vê-se no casal de ambulantes Edna Maria Santos (54) e Valdeci Barros Barbosa (52) as marcas de um trabalho feito dia após dia, sem folga, e que oferece um baixo retorno. “Estamos aqui no Centro vendendo frutas há quatro anos. Antes, eu trabalhava como doméstica, mas não era com carteira assinada”, conta Edna.


O marido dela trabalha com vendas por conta própria, há 34 anos. “Também nunca tive a carteira assinada. Com 19 anos, até passei um ano na Rodoviária João Thomé como avulso, mas tive uns desentendimentos e não quis mais. Não gosto de ser mandado por ninguém”, explica Valdeci. Além das frutas, o ambulante também já trabalhou com lanches na praia e como borracheiro.


Questionado se não tem medo de ficar doente e não ter como ir trabalhar, ele admite que não pensa muito nisso.


“Só tô lembrando de doença agora que você falou. Mas não fico me preocupando, porque é pior. Vou viver disso até o dia que der”.


O carrinho de frutas é a única fonte de renda do casal, que passa o mês apertado, mas “escapa com a fé de Deus”, como diz Edna. Ela ainda conta que a mercadoria sai bem pela qualidade e baixos preços. “No supermercado, eles vendem por quilo e aqui a gente vende por unidade”.


Antecipação


Segundo o economista da Tendências Consultoria, Thiago Xavier, o Ceará antecipou os efeitos da crise e começou a demitir antes que a média do País. “Em 2015, o Ceará já havia registrado uma redução de 2,2% no número de pessoas ocupadas, enquanto a média do Brasil ficou estável”.


Isso refletiu na taxa de informalidade no Estado, que subiu de 54,1%, em 2016, para 54,5%, em 2017, e para 55,3%, no ano passado. “A informalidade alta está relacionada com diversos fatores econômicos, como o grau de dinamismo da economia, e outros pontos políticos e sociais. Por isso, a taxa de informalidade é historicamente maior nos estados do Nordeste e Norte”.


Perfil discrepante


A informalidade, no entanto, não atinge somente os mais velhos. A designer de sobrancelhas Glaucineide Nascimento (25) trabalha nas ruas do Centro há um ano. “Vim para cá para não trabalhar para ninguém”, afirma. Desde os 13 anos, Glaucineide trabalha em salão, mas sem vínculo formal.


“Aqui (no Centro), eu ganho bem mais, apesar de cobrar mais barato. No salão, não é todo mundo que entra. Aqui, tenho cliente morador de rua, pedinte, vendedora, gerente, não tem seleção”.


A designer chega a atender 20 pessoas por dia. “Meu serviço custa entre R$ 10 e R$ 12, enquanto em um salão seria de R$ 25 a R$ 30. Faço um preço que caiba no bolso de todo mundo”. O trabalho de Glaucineide sustenta a casa onde ela mora com os pais, que não trabalham, nem são aposentados. Ela ainda não tem cadastro de Microempreendor Individual (MEI), mas revela que pensa em fazer. “Algumas amigas têm e dizem que é bom fazer, mas ainda não fui atrás. Por comodismo mesmo”.


Sobre montar seu próprio espaço, ela diz não pensar agora. “Aqui, eu só gasto o material e a minha mão de obra. Se eu for colocar um ponto, tem que pagar aluguel, água, luz. Aqui mesmo tá bom”.