Cancelamento de aulas pelo coronavírus impacta rotina de famílias

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Além de mais cuidados em casa, mudança também dificulta escala de trabalho ou aquisição de renda extra de pais e responsáveis. Só em Fortaleza, cerca de 231 mil alunos passarão os próximos 15 dias longe da escola, afirma Prefeitura

Escolas, creches, universidades e outras instituições de ensino foram afetadas por decisões do poder público e entidades privadas em suspender temporariamente as atividades. Em Fortaleza e no interior do Ceará, a maioria interrompe o funcionamento a partir desta quarta-feira (18). Além de influenciar no calendário pedagógico, a paralisação não programada também impacta diretamente na rotina de trabalho e cuidados de pais e responsáveis por crianças matriculadas na rede.

No bairro Cristo Redentor, na Capital, o tema não sai da boca do povo. Até mesmo crianças discutiam o uso de álcool em gel nas imediações das escolas municipais Santa Tereza e Virgílio Távora, no último dia antes da suspensão. Pelas ruas do bairro, outras pessoas circulavam utilizando máscaras hospitalares.

Segundo a Secretaria Municipal da Educação (SME), a medida afetará mais de 231 mil alunos distribuídos em 582 equipamentos, entre escolas, Centros de Educação Infantil e creches conveniadas. Alice Sousa, por exemplo, não vai poder parar o trabalho como auxiliar de cozinha para ficar com a filha, de quatro anos, em casa. “Ela vai ter que ficar com a avó”, resume o processo.

Valdênia Acácio também vai perder parte da renda familiar que consegue com “bicos” mensais de faxina, com o qual custeia a criação de três filhos: um de dois, outro de quatro e uma terceira de nove anos. “Vai atrapalhar, mas acho que fizeram certo em cancelar as aulas. Criança não tem o nosso corpo, nem os idosos”, explicou ao buscar Arthur Guilherme, o filho do meio, com uma máscara cirúrgica no rosto.

Segundo ela, nas comunidades da Grande Barra do Ceará, muitas mães que trabalham ou fazem pequenos serviços serão atingidas, sobretudo aquelas cujos filhos estão matriculados no tempo integral. A situação afeta sobretudo as mulheres. Desempregado, Reginaldo Souza deixará o casal de filhos aos cuidados da mãe enquanto procura bicos. Já a filha de Antônio Lima ficará com a cunhada enquanto ele trabalha. “Na minha folga, sou eu que cuido dela”, garante.

Merenda

Cícera Silva, do Instituto Ama Doce e liderança comunitária na região dos bairros Passaré, Parque Dois Irmãos e Dias Macedo, chama atenção ainda para a questão da merenda escolar – ou da falta dela. “Complica mais ainda porque, com as crianças fora da aula, elas não têm alimentação suficiente. São áreas muito vulneráveis, e os pais já davam graças a Deus elas irem pra escola”, relata.

Segundo Cícera, famílias inteiras de recicladores pararam de trabalhar porque estão “apavoradas” com a propagação da doença. As poucas orientações de agentes de saúde e a falta de dinheiro para comprar álcool em gel em farmácias – que beiram os R$30 na região – levaram a comunidade a pensar até mesmo num gel alternativo. “Mas ninguém tem nem certeza se funciona mesmo”, lamenta.

A Prefeitura de Fortaleza também informou que estuda formas de continuar ofertando, de forma segura, a merenda escolar para estudantes da rede pública que corram risco de desnutrição. Um plano específico deve ser anunciado até sexta-feira (20).

Além dos matriculados nas escolas municipais, a suspensão também impacta 419 mil estudantes das 728 escolas da rede estadual, segundo a Secretaria da Educação (Seduc). A Universidade Estadual do Ceará (Uece), a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade Federal do Cariri (UFCA) e o Instituto Federal de Educação do Ceará (IFCE) também interromperam aulas e eventos presenciais. A medida foi adotada ainda por universidades particulares.

Recomendação

O Sindicato da Educação e dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe-CE) também emitiu circular, assinada pelo presidente Airton de Almeida Oliveira, recomendando a suspensão das aulas até o dia primeiro de abril, “salvo recomendação dos órgãos competentes durante esse tempo”. Nesse período, “poderão ser ofertadas atividades pedagógicas a distância (EAD) como dias letivos”.

Grasi Oliveira conta que sua sorte foi porque o marido, professor, também teve as atividades interrompidas e poderá cuidar de Yasmim, 10, e de Júlia, 5. Caso contrário, as meninas seriam enviadas para a casa da sogra de Grasi – e mesmo assim com certa preocupação, já que a mulher está no grupo de alto risco. De qualquer forma, a alteração mexeria na rotina da família.

“A escola da Yasmim ainda não parou, mas por decisão própria, decidi não mandar também a partir de hoje”, conta a mãe, que trabalha numa clínica de cirurgia plástica e, por isso, redobrou os cuidados com a família. A programação em planejamento para as filhas “muito cheias de energia” inclui pinturas, oficina de slime, jogo de perguntas e outras atividades lúdicas a fim de ocupar o tempo livre.

Fonte: Diário do Nordeste

 

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