ARTIGO| Teleférico do Caldas: estação ecopedagógica, por Luís Carlos Diógenes

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Alguém ainda pode ignorar que o Planeta Terra é um só organismo vivo e que, a olhos vistos, segue sua jornada à revelia da vontade humana? Já não mais se dissimula a suicida conduta parasitária do ser humano, dependente do equilíbrio sustentável da rede de vida ecossistêmica planetária. A razão instrumental, linear, tão reducionista quanto antiecológica, ameaça não cumprir o pacto intergeracional de inviolabilidade ambiental, prometido nas palavras e negado nas ações.

Vida humana futura já não é mais certeza, posto que o abismo entre humanidade e recursos naturais imprescindíveis à sua sobrevivência alarga-se desmesuradamente. Pior: o ser humano continua a negar, por ignorância, soberba ou cinismo, quando não estes três elementos em conluio, o pacto ecológico originário, entre todos os viventes, no condomínio planetário. Gaia (Natureza, Deus) cedeu, de empréstimo, até agora, a cada geração humana que se sucede no tempo histórico, uma transitória morada. Esta compreensão, ausente, precisa ser despertada pela escola ecologicamente revolucionada.

A sala de aula que mais condiz com uma escola ecopedagógica talvez seja aquela em que todos os viventes do Planeta Terra, em igualdade horizontal, reúnam-se sob o mesmo teto celestial. O teleférico do Caldas conduz o visitante a esta educadora estação derradeira, no cimo da Chapada do Araripe. Uma trilha pela floresta, além de revelar espécies vegetais surpreendentes como Massaranduba, Sucupira, Copaíba e quejandos, alardeia, ainda, duas realidades vividas e sentidas, as quais devem ser analisadas pela racionalidade ecológica: a frescura no interior da mata perante a “era da fervura” em que a humanidade ingressou.

O Mirante do Caldas, construído com recursos do povo cearense, inaugurado desde 2021, não pode servir meramente para deleite de turistas, mas sim como equipamento público para formação de um novo sujeito ecológico. De onde o sertão já foi mar, o Teleférico do Caldas pode descer até às margens do Rio Cocó, em Fortaleza, numa viagem imaginária, como espelho para edificação de uma urgente estação de escola ecopedagógica, alicerçando o ethos ecológico do cidadão cearense planetário.

Fonte: O Povo

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