Objetivo das casas de sementes é favorecer a troca de espécies entre os produtores da comunidade
por Honório Barbosa – Colaborador
Jucás. Agricultores agroecológicos de várias comunidades rurais do Interior estão mobilizados em um esforço coletivo para preservar as sementes crioulas. São os chamados guardiões. Além da preservação dos grãos, há um trabalho de fortalecimento da agricultura de base familiar em andamento na região Centro-Sul do Estado.
Levantamento realizado pela Cáritas Diocesana de Iguatu mostra que existem 15 casas de sementes crioulas nos municípios de Jucás, Cariús, Saboeiro, Senador Pompeu, Acopiara e Pedra Branca. Essas unidades integram a Rede de Intercâmbio de Sementes Centro-Sul, que foi criada em outubro de 2016.
De acordo com Alessandro Nunes, da Cáritas Regional Ceará, os principais desafios da produção e conservação das sementes crioulas também conhecidas como sementes da paixão ou da fartura são os pacotes tecnológicos oferecidos aos produtores rurais, o risco de contaminação com o cultivo de transgênicos.
O objetivo das casas é organizar os guardiões de sementes crioulas em suas comunidades, favorecer a troca entre os produtores e contribuir para o melhor funcionamento nos aspectos de organização social e política, segundo destacou Mara de Oliveira, da Cáritas Diocesana.
Em Jucás, no sítio dos Lucas, distante 14km da sede, foi construída a Casa de Sementes Luís Gomes Lucas que já reúne alguns recipientes com 14 variedades de grãos de milho, feijão, fava e jerimum. “Estamos começando e vamos crescer no estoque e na preservação das sementes crioulas”, pontua a agricultora familiar, Sofia Lucas. “Nos encontros, trocamos ideias, conhecemos as ações que deram certo em outras localidades e vamos enfrentar a nossa maior dificuldade que é o isolamento”.
Mara de Oliveira observa que muitos agricultores preferem as sementes selecionadas, modificadas geneticamente e distribuída pelo governo porque acreditam que a produção será mais rápida. “Nós trabalhamos na conscientização, no abandono ao uso de agrotóxico, na preservação das sementes crioulas”.
A implantação das casas de sementes nas comunidades tem captação de recursos por meio da Articulação do Semiárido (ASA) e Cáritas Diocesana. Alguns bancos de sementes já reúnem maior variedade e quantidade, conseguindo comercializar o excedente entre agricultores.
Recentemente, ocorreu no município de Jucás, o Encontro da Rede de Intercâmbio de Sementes do Centro-Sul, no sítio dos Lucas. Por dois dias, os participantes promoveram debates, troca de sementes e venda de seus produtos agroecológicos.
O evento, que chegou à quarta edição, teve por objetivo fortalecer o segmento da agroecologia com foco na preservação da biodiversidade genética das sementes crioulas. Neste ano, o tema do encontro foi ‘É no Semiárido que o povo vive e resiste’.
Mara de Oliveira, da Cáritas Diocesana de Iguatu, lembra que o encontro resultou de uma articulação de todas as Casas de Sementes, com o apoio da instituição ligada à Igreja Católica, além de outras entidades. “Promovemos a troca em uma feirinha e o intercâmbio de informações técnicas”, pontuou.
Estratégias coletivas e de segmentos específicos para o fortalecimento da agricultura familiar através da produção agroecológica e o uso das sementes crioulas também foram discutidas. “É um momento rico para compartilhar experiências que são desenvolvidas através das comunidades com apoio das casas”. Nas reuniões são avaliados os impactos, resultados e desafios da ação de defesa das sementes crioulas. Em roda de conversa temas como os riscos dos agrotóxicos e os alimentos transgênicos foram discutidos.
Tipos
O jovem guardião de sementes Micael Plácido, 14, morador da comunidade Betel, zona rural de Saboeiro, há quatro anos começou a guardar crioulas e nativas. Hoje, conta com mais de 65 tipos diferenciados. “Iniciei depois de conversar com meu pai, que também tinha algumas sementes. Ele começou o plantio de crioulas, depois de perder as safras com sementes do governo”.
Plácido observou que as crioulas são bem mais resistentes. “Houve um veranico, mas com a volta das chuvas as espigas se desenvolveram e tiramos uma colheita boa”, demonstrou o jovem agricultor e estudante.