Taxa de desemprego se estabiliza à custa de vagas piores e salários mais baixos

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A retomada consistente do mercado de trabalho é um cenário ainda muito distante do atual horizonte do Brasil, indicam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) divulgados pelo IBGE na sexta-feira (28). 


Isso porque o mercado de trabalho no Brasil continua sustentado por vagas de baixa qualidade, deixando parte dos brasileiros no subemprego e achatando salários.


A população ocupada cresceu 1,2% no trimestre de março a maio, na comparação com o trimestre até fevereiro. Porém, das 1,1 milhão de pessoas que passaram a trabalhar no período, mais da metade (582 mil) estava trabalhando menos do que gostaria, e quem está conseguindo emprego acaba recebendo um salário menor.


“Quantitativamente está havendo uma expansão do número de pessoas ocupadas. Só que por trás desse crescimento, percebe-se que são pessoas subocupadas”, afirma Adriana Beringuy, analista da Coordenação Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.


O número de pessoas subocupadas por insuficiência de hora trabalhadas –que são aquelas que trabalham menos 40 horas por semana, mas gostariam e têm disponibilidade para trabalhar mais- chegou a 7,2 milhões em maio.


A alta foi de 8,8% em relação ao trimestre encerrado em fevereiro e de 14,2% ante igual período do ano anterior. Como consequência, o rendimento mensal piorou e caiu 1,5% contra o trimestre anterior, chegando a R$ 2.289 -o pior valor desde o trimestre encerrado em novembro.


“O que parece estar acontecendo é que a transição do desalento para o desemprego e do desemprego para o emprego tem se dado pelo trabalho informal”, disse Renan Pieri, especialista em economia do trabalho e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas).


 


“Quando se tira uma média da remuneração, a renda cai. Nem tanto porque os que já estavam empregados diminuíram suas rendas, e mais porque esses ingressantes começam via informalidade com poucas horas”.


Na avaliação de Cosmo Donato, economista da LCA consultores, o cenário econômico atual também dificulta aumentos salariais. “Uma competição maior por vagas disponíveis tem pressionado os salários para baixo. Além disso, tanto por questões da economia quanto pelo faturamento das empresas, fica mais difícil negociações salariais acima da inflação”.


A taxa de desemprego, ainda segundo o IBGE, encerrou o trimestre de março a maio em 12,3%, praticamente estável na comparação com os 12,4% do trimestre encerrado em fevereiro, e menor do que os 12,7% registrados no mesmo trimestre do ano anterior. O número de pessoas desocupadas também permanece estável, em 13 milhões.


Apesar da estabilidade no desemprego e de o número de pessoas ocupadas ter aumentado para 92,9 milhões, praticamente não houve geração de novas vagas no mercado formal no período.


A força de trabalho, que soma a população ocupada e desocupada, cresceu 1% na comparação com o trimestre anterior. Ou seja, novas pessoas conseguiram entrar no mercado de trabalho no trimestre, mas o fizeram pela via da informalidade e trabalham em condições precárias.


“Mesmo que haja avanços quantitativos, o mercado mostra uma certa fragilidade no que diz respeito a geração de postos com carteira assinada”, afirmou a analista do IBGE.


O crescimento na ocupação foi puxado pelo número de empregados sem carteira assinada, que avançou 2,8% contra o trimestre anterior, para 11,4 milhões, e no trabalho por conta própria, majoritariamente informal, que cresceu 1,4% -com incremento de 330 mil trabalhadores sem CNPJ- e bateu o recorde da série histórica, chegando a 24 milhões pessoas.


Estes trabalhadores informais têm rendimentos menores. A média salarial o trabalhador informal do setor privado ficou em R$ 1.372 no trimestre de março a maio, com queda de 1,3% contra o período anterior. Já a de quem tem carteira assinada teve uma leve queda de 0,3%.


O rendimento mensal dos trabalhadores por conta própria também caiu: 1,9% entre os que trabalham sem CNPJ, para R$ 1.315, e 3,3% para os que têm CNPJ, para R$ 3.088.


“Esse seria o ’empreendedor por necessidade’. É aquela pessoa que está abrindo o próprio negócio porque justamente não tem emprego para ela. Essa pessoa acaba vendo nessa forma de trabalho um meio de recuperar parte da renda que ela perdeu”, disse Donato.


Outro movimento que chamou atenção foi a subutilização da força de trabalho, que bateu mais um recorde, com 28,5 milhões de brasileiros procurando emprego, trabalhando menos do que gostariam ou desalentados. Segundo o IBGE, a taxa subutilização é de 25% nos três meses até maio.


Para Donato, isso é reflexo também do movimento de quem não estava procurando emprego (seja porque dependia de outra pessoa, seja porque estudava) e agora, devido à crise e o desemprego, precisa ajudar a recompor a renda familiar.


“Se o chefe de família, por exemplo, perde seu emprego, o dependente passa a não ter mais renda para financiar os estudos, e aí precisa trabalhar. Mas essa pessoa tem menos capacitação, tem menos anos de estudo, então acaba aceitando uma colocação por uma remuneração menor”.