Semana recheada de reuniões de comitês de política monetária, com a “Super Quarta”, com encontros dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos, no dia 21, deve movimentar setor financeiro e gerar bastante volatilidade nas bolsas
A 13 dias das eleições, a semana começa com a expectativa de uma série de decisões sobre taxas de juros básicas de vários países. O foco do mercado estará direcionado para a “Super Quarta”, dia de decisões conjuntas dos comitês de política monetária dos bancos centrais do Brasil (Copom) e dos Estados Unidos (Fomc), que devem causar mais tensão na corrida para o primeiro turno, no dia 2.
A maioria das apostas para a próxima resolução do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), nesta quarta-feira, é de um novo ajuste de 0,75, nos juros básicos atuais, com intervalo de 2,25% a 2,50% ao ano, devido à surpresa nos dados recentes da inflação norte-americana, que está mais persistente e espalhada do que o esperado.
Mas aumento maior nos juros, de um ponto percentual ou até mais do que isso, não é descartado, porque analistas reconhecem que o Fed pode tentar tirar um pouco do atraso no início do ciclo de aperto monetário. Na última semana, os dados de inflação da maior economia do planeta surpreenderam o mercado, fizeram analistas elevarem as apostas e as bolsas caírem.
Não à toa, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) acompanhou o mau humor internacional e perdeu R$ 102,7 bilhões em apenas quatro dias, conforme dados da Trade Map.
No Brasil, como o Copom iniciou o ajuste monetário mais cedo do que os demais bancos centrais, o mercado se divide entre estabilidade e uma última alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,75% ao ano.De acordo com dados do banco norte-americano Goldman Sachs, existe 60% de probabilidade de manutenção da Selic e outros 40% de chances de aumento de 0,25 ponto percentual, elevando os juros básicos para 14% — maior patamar desde outubro a novembro de 2016.
A certeza entre os analistas é de que está perto o fim do ciclo de aperto monetário do BC, iniciado em março de 2021. Naquela época, a Selic estava no piso histórico de 2% anuais, e, agora, o consenso indica que ela deve permanecer alta durante um período prolongado e uma queda, gradual, está sendo prevista para o segundo semestre de 2023. Ao contrário das afirmações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a economia “está decolando”, eles alertam para o freio de mão puxado pelo BC.
Escalada
As projeções para a Selic no fim de 2023 subiram para 11,25% e devem subir mais, segundo analistas, porque, o Tesouro Nacional passou a pagar mais de 12% nos títulos prefixados com vencimento em 2025 na semana passada.
“O contexto de inflação mais elevada na economia mundial e com juros subindo é um sinal ruim para os países emergentes, porque o dólar fica mais caro, e consequentemente, será preciso juro real elevado. Portanto, a queda na Selic vai ser muito moderada no ano que vem”, destaca Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos. Pelas estimativas dele, a inflação no ano que vem continuará pressionada e acima do teto da meta, girando em torno de 6% no ano que vem, mas ele acha que o BC não vai elevar a Selic.
Vale lembrar que as previsões para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano e do ano que vem continuam acima dos tetos da meta, de 5% e de 4,75%, respectivamente, um sinal de que o BC não pode ser leniente com a inflação, ou seja, “dovish”, como aconteceu nas eleições de 2014, no governo Dilma Rousseff (PT).
E, apesar do recuo no IPCA, em julho e em agosto, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem dado declarações de que não está confortável em interromper o ciclo neste momento e que não pode comemorar a deflação. Segundo ele, o BC não pensa em cortes de juros no momento, porque existe “um “elemento de preocupação grande com a inflação”.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, ressalta que, mesmo com a manutenção da Selic, a política monetária continuará restritiva do ponto de vista da atividade econômica, porque os juros já estão em um patamar elevado. Além disso, ele acredita que, com o Fed apertando mais a mão nos juros, isso pode, de certa forma, ajudar o Copom a manter a Selic em 13,75%. “A alta dos juros internacionais pode até ajudar o Copom a não elevar os juros, porque desacelera a economia global e reduz os riscos inflacionários”, avalia.
Ele lembra que a maior preocupação do BC é com a alta do custo de vida a partir de 2024, porque, apesar de a inflação estar recuando neste ano, as expectativas futuras continuam acima do teto das metas determinadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “O comportamento da inflação sugere uma política monetária mais cautelosa”, destaca.
O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato, também não espera queda nos juros básicos tão cedo. “A redução dos impostos sobre combustíveis deve trazer o IPCA para 5,8% a 6% no fim do ano e alguns determinantes melhoraram. Não consigo imaginar o BC subindo os juros nesse contexto, mas o corte de juros deverá ser postergado”, afirma. Ele destaca que um dos motivos para as projeções de inflação continuarem acima da meta é justamente a questão fiscal, que está indefinida em 2023.