Renda do trabalho sobe 4,7% entre mais pobres na Grande Fortaleza

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|EM UM ANO | Crescimento é, contudo, marcado pela informalidade, insuficiente para recuperar perdas na pandemia e menor que o registrado nos outros estratos sociais

A renda do trabalho entre os 40% mais pobres subiu 4,7%, na Grande Fortaleza, no 2º trimestre de 2022 quando comparado com período equivalente do ano passado, passando de R$ 157,92 para R$ 165,43 per capita, ou seja, quando somados todos os rendimentos de quem mora em determinado domicílio e divididos pelo número de pessoas que nele residem.
A recuperação é tímida frente ao tombo de 18,3% verificado na comparação com o 2º trimestre de 2019, antes da pandemia de Covid-19. Naquele período, essa parcela da população da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) tinha renda per capita do trabalho de R$ 202,69. Além de insuficiente para repor as perdas causadas pela crise sanitária, o crescimento na renda dos 40% mais pobres foi inferior à registrada em outros estratos sociais.

Quando considerada a população geral, os rendimentos vindos do trabalho (incluindo os informais) na RMF tiveram crescimento de 6,8% em um ano, passando de R$ 954,51 para R$ 1.019,87, embora acumulem perdas de 13,6% entre o 2º trimestre de 2019 (quando chegou a ser de R$ 1.180,96) e o 2º trimestre de 2022. Os dados constam da décima edição do “Boletim – Desigualdade nas Metrópoles”.

Para André Salata, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e um dos coordenadores do estudo, “a gente pode dizer que a renda em Fortaleza está patinando mais. No cenário nacional, a gente estava com uma sucessão de quedas de rendimento nos últimos trimestres, até que nesse último período analisado houve um aumento bastante significativo. Em Fortaleza, a gente também teve aumento de renda, mas bastante tímido”.

A propósito, a RMF ocupa apenas a 16ª posição no ranking nacional em termos de renda média per capita do trabalho (que exclui outras fontes de rendimento tais como benefícios, doações, aluguéis, etc). Mesmo na Região Nordeste, o rendimento médio geral do trabalho na Grande Fortaleza fica atrás de Aracaju (que é de R$ 1.154,25), Natal (R$ 1.093,18, em média) e Salvador (cerca de R$ 1.071,40).

“Olhando para o recorte de renda, Fortaleza até tem uma recuperação entre os 40% mais pobres, depois do tombo enorme que a pandemia trouxe, mas não há uma continuidade nesse processo, de modo que a renda dessa parcela da população ainda não se aproximou do nível de renda anterior”, pontua Salata.

Ele acrescenta que, entre as explicações para o fenômeno há fatores que também atingiram outras regiões do País, tais como a redução do desemprego, mas acompanhada de uma alta no processo inflacionário. “Agora, há a combinação de queda na desocupação com redução da inflação”, explica.

“Em Fortaleza, isso é minimizado pela grande informalidade que caracteriza o mercado de trabalho local. Essa recuperação baseada em ocupações informais, que pagam mal, torna esse processo muito incerto e muito vagaroso”, destaca.

“Então, em dois anos, a renda do trabalho dos mais pobres não conseguiu chegar perto do patamar anterior, que já era baixo”, afirma o pesquisador da PUCRS. Apesar disso, como houve queda geral na renda do trabalho, a desigualdade caiu.

Na Grande Fortaleza, ela passou de 0,626 para 0,613 em três anos, levando em conta o Coeficiente de Gini, principal indicador de desigualdade utilizado globalmente.

“Todo mundo mais pobre do que era. Esse está longe de ser o cenário ideal. Não vejo como sendo algo que deva ser comemorado”, conclui Salata.

Fonte: O Povo

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