Refresco da pandemia faz PIB crescer 1% no primeiro trimestre

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O desempenho ficou um pouco abaixo das expectativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 1,2%. O PIB busca medir a produção de bens e serviços no país a cada trimestre. O avanço do indicador é usualmente chamado de crescimento econômico.

A alta de 1% é a terceira em sequência, depois de recuo no segundo trimestre de 2021 (-0,2%). Com o desempenho, o PIB ficou 1,6% acima do patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia. Contudo, segue 1,7% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, registrado no primeiro trimestre de 2014.

Em outras palavras, a economia recuperou as perdas geradas pela Covid-19, mas ainda não superou os impactos da crise que ganhou forma entre 2014 e 2016. O nível da atividade econômica é similar ao de meados de 2013 no país, indicou o IBGE.

O resultado divulgado ontem veio em um contexto de derrubada de restrições a atividades após os estragos causados pela pandemia.

Serviços
Parte do setor de serviços, o principal do PIB, havia sido paralisada nas fases mais críticas da crise sanitária. Com o processo de reabertura da economia, houve espaço para melhora ao longo dos últimos meses.
Segundo o IBGE, foi justamente o setor de serviços que puxou o PIB para cima no primeiro trimestre. A alta do segmento foi de 1% em relação ao final de 2021, um movimento que já era previsto por analistas. “Dentro dos serviços, o maior crescimento foi de outros serviços, que tiveram alta de 2,2% no trimestre e comportam muitas atividades dos serviços prestados às famílias, como alojamento e alimentação”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, em referência a negócios como hotéis, bares e restaurantes. “Muitas dessas atividades são presenciais e tiveram demanda reprimida durante a pandemia”, completou.

Indústria
A indústria, por sua vez, registrou relativa estabilidade, com pequena variação de 0,1%. Já a agropecuária recuou 0,9%, prejudicada pela seca na região Sul.

“O cenário do primeiro trimestre é de uma economia saindo da pandemia. Os serviços tiveram uma recuperação mais vigorosa”, avaliou o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, antes da divulgação dos resultados.
O economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos, também já fazia análise na mesma linha. “O processo de retomada da economia tem gerado efeitos mais longos do que se esperava inicialmente. Esse é o ponto principal”, diz.
Às vésperas da corrida eleitoral, o governo federal apostou em medidas como o Auxílio Brasil, em uma tentativa de estimular o consumo em um período de escalada da inflação, lembram analistas.
A base de comparação fragilizada do PIB é mais um dos fatores apontados para explicar o desempenho do indicador no primeiro trimestre.
Por fim, o avanço da ocupação no mercado de trabalho, mesmo com a renda média em queda, também é citado como um possível estímulo para a economia na largada do ano.

Projeção
Analistas alertam para uma possível desaceleração do PIB ao longo de 2022, especialmente no segundo semestre. Até lá, projeta-se efeito maior dos juros altos e da inflação persistente sobre o consumo, motor do crescimento econômico.
Incertezas da corrida eleitoral brasileira e do cenário externo, em meio à Guerra da Ucrânia e à mudança na política monetária dos Estados Unidos, surgem como ameaças adicionais.

“Daqui para frente, a expectativa é um pouco mais negativa. O efeito dos juros altos no Brasil tem uma defasagem para aparecer. Deve atrapalhar no segundo semestre, e as expectativas para inflação pioraram”, analisa Mercadante.
O boletim Focus mais recente, de 29 de abril, mostrou uma projeção do mercado financeiro de alta de 0,7% para o PIB no acumulado de 2022, segundo o BC (Banco Central), responsável pela publicação.
Há instituições financeiras que preveem um avanço mais forte, próximo ou acima de 1%. No começo do ano, as estimativas eram menores, ao redor de 0,3% na mediana. Essas projeções melhoraram com os sinais de uma atividade mais aquecida ao longo do primeiro trimestre.

Porém, analistas ponderam que a reação do PIB, um indicador de produção de bens e serviços, nem sempre é sentida pela população na mesma medida. É o caso atual, conforme Vale, da consultoria MB Associados. “A população está sofrendo com inflação e desemprego ainda alto. Assim, fica difícil perceber uma vida melhor. O desemprego caiu, mas segue em dois dígitos, assim como a inflação”, afirma. “A recuperação mesmo vai ocorrer quando tivermos crescimento maior do PIB e inflação e desemprego menores.”

O Estado do Ceará

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