Quebra e desvalorização de bancos devem influenciar na queda de juros

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Cenário internacional conturbado em razão da quebra de bancos nos Estados Unidos e desvalorização do Credit Suisse entram no radar do Copom. Mas alteração na Selic não deve ocorrer na próxima reunião do comitê, nesta semana

Após o fechamento de dois bancos americanos e a queda vertiginosa das ações do Credit Suisse, a ansiedade tomou conta do mercado, que aguarda uma queda antecipada da taxa básica de juros (Selic) no Brasil. Dado o altíssimo risco sistêmico e as lembranças da crise de 2008, analistas acreditam que bancos centrais devem intervir para proteger a economia de um colapso, que pode facilmente ser ocasionado por quebra de instituições financeiras em efeito cascata.

A redução dos juros expôs uma queda de braço entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e tem fatores internos determinantes, como a inflação e o ritmo da atividade econômica. O cenário incerto da economia global, no entanto, reforça a pressão sobre as autoridades monetárias de vários países, colocando a política de juros na berlinda.

Para Lucas Schwarz, analista da VG Research, a tribulação afetaria todos os mercados, sem distinção, pois geraria uma crise de confiança no próprio sistema. A curto prazo, o maior impacto seria sobre decisões de política monetária. “Com o aperto monetário, os primeiros corpos começaram a boiar; o problema é que o Credit Suisse é grande demais para quebrar e, por essa razão, os bancos centrais podem pensar em dar uma pausa no aperto monetário para que uma crise de liquidez de fato não se concretize”, avaliou.

O governo Lula já sinalizou que uma crise no mercado financeiro, em meio ao temor de recessão, pode antecipar uma queda nos juros aqui no Brasil. “O próximo meeting do Federal Reserve (Fed, banco central americano) será essencial para verificar se as crises dos grandes bancos serão motivo para dar uma pausa no aperto. Credit Suisse e Deutsche Bank são duas bombas-relógio. Porém, as autoridades monetárias parecem estar dispostas, a todo custo, a evitar uma nova grande crise financeira global, como visto nas falas recentes do Banco Central da Suíça”, disse.

O principal impasse para a queda dos juros é o aumento da inflação. Projeções do Boletim Macrofiscal, divulgadas pelo Ministério da Fazenda na última semana, revisaram a expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que deve fechar este ano em 5,31%. A meta central de inflação para este ano foi fixada em 3,25% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. Caso a projeção do governo se concretize, este será o terceiro ano consecutivo de estouro da meta.

A perspectiva faz com que o mercado não considere uma queda da Selic já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para esta semana. “O Fed e o BC podem atuar de alguma forma para conter os juros, em meio ao receio da crise bancária. Por outro lado, a inflação continua alta. Nesse cenário, começa a se levantar o dilema de o que poderia ser um remédio de curto prazo. A inflação alta é muito nociva para a economia, então esses são os grandes dilemas”, ponderou Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos.

No Brasil, a discussão sobre o patamar dos juros ainda passa por um elemento particular: a perspectiva fiscal do país frente à iminente apresentação da âncora fiscal que sucederá o teto de gastos — mecanismo para limitar o crescimento das despesas públicas à inflação.

Analistas não acreditam que o quadro que se apresenta agora seja tão agudo quanto a crise de 2008, que também começou com quebradeira de bancos americanos, mas não se arriscam a dizer até onde chega a atual instabilidade monetária. “Sem dúvida, 2008 trouxe uma lição que todos os bancos centrais aprenderam e com certeza não vão pagar pra ver novamente, mesmo que isso custe tirar dinheiro do próprio bolso, já que o impacto nocivo do risco sistêmico pode custar muito mais do que intervir nessas instituições, seja na gestão, seja suprindo seus clientes”, disse Sidney Lima, analista da Top Gain Research.

Fonte: Correio Braziliense

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