Ouvir as ruas é essencial

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O fim de semana foi marcado por manifestações, em grande parte das cidades brasileiras, contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Os manifestantes, em todos os estados e no Distrito Federal, pedem mais vacinas contra a covid-19, o impeachment de Bolsonaro e o aumento do valor do auxílio emergencial, para R$ 600. No geral, os protestos foram pacíficos, embora conflitos tenham sido registrados em São Paulo.

Foi o primeiro protesto depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a abertura de inquérito para apurar a conduta de Bolsonaro na negociação para a compra da vacina Covaxin. Foi também a terceira grande manifestação organizada por opositores do governo neste ano, com atos em diversas cidades brasileiras. O primeiro grande ato foi realizado no dia 29 de maio; o segundo, em 19 de junho.

É interessante observar a enorme quantidade de pessoas participantes na manifestação do fim de semana passado – membros de lideranças sindicais, de movimentos sociais e de partidos políticos, além da população em geral. É explícito que os atos demonstram o descontentamento sobre o presidente e seu governo, e esses participantes precisam ser ouvidos e respeitados em suas críticas.

Os atos são extremamente relevantes para a conjuntura, visto que a capacidade de mobilização para ir às ruas no meio de uma pandemia mortífera como esta endossa o quanto a preocupação acerca do governo é igualmente grave em relação ao novo coronavírus. No entanto, os desdobramentos dos impactos políticos sobre o governo dependem de outras circunstâncias variáveis, como a dinâmica da pandemia no Brasil nos próximos meses e os índices de popularidade de Bolsonaro, medidos constantemente por pesquisas de opinião.

Os protestos nos mostram que as forças políticas e as instituições precisam estar atentas ao sentimento de uma população cansada diante de um noticiário frequentemente negativo e de um governo que acumula problemas de diversos matizes sem demonstração eficaz de esforço para solucioná-los. Em sentido contrário, o governo cria tensões e alimenta dificuldades por meio da insistência do presidente e de seus apoiadores em indicar empecilhos para o processo eleitoral de 2022 caso o seu estapafúrdio desejo de voto impresso não se concretize.

Ouvir o que dizem as ruas é também essencial no processo democrático. Desse modo, Bolsonaro deve se concentrar em governar a fim de que sejam amenizadas as inquietudes que pairam em sua gestão e minimizada boa parte dos problemas que ele mesmo ajuda a criar. Almejar a estabilidade política, neste cenário, não deve ser tão somente uma aspiração do presidente, mas uma exigência para a sustentabilidade democrática.

Fonte: Editorial O Povo

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