ARTIGO | “Desencantando Bárbara”, por Luiz Carlos Diógenes

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Izolda Cela, governadora do Ceará, assinará decreto, segundo noticiado na imprensa, tornando o Caldeirão, cenário histórico de atuação do Beato Zé Lourenço, uma unidade de conservação estadual (UC). É a história cearense pedagogicamente conservada para o próprio desenvolvimento sustentável do Estado.

Todavia, há um fenômeno e um sítio com vocações multidisciplinares, no Cariri Oeste, esquecido da Academia e do Estado: a primeira republicana brasileira e o distrito de Itaguá. Bárbara Pereira de Alencar, tal qual Guimarães Rosa para Drummond, “não morreu, encantou-se!” Símbolo de luta e utopia, destemor e sonho. Para a emancipação feminista e pelo protagonismo político do Cariri, urge desencantá-la. Não basta constar no Livro dos Heróis da Pátria como heroína nacional, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília, pela Lei 13.056/2014.

A Fundação Sintaf de Ensino e Pesquisa, a Estação de Cultura Ecopedagógica e o Sindicato dos Fazendários do Ceará lançam o ”Projeto Desencantando Bárbara”. Meninos e meninas da Comunidade de Itaguá, simbolicamente, romperão uma lápide tumular da capela comunitária que acolheu os restos mortais de Bárbara, resgatando a luta da heroína por lápis e pincéis imaginários. Um tesouro que lhes pertence, secularmente, deve vir à flor da terra, à luz do sol para florescer, pelas ruas e lares, distribuído em arte rendosa, gerando encantamento e energia suficiente para mover a roda da economia oriunda da cultura, no Cariri Oeste. Bárbara volta apontando, do túmulo, caminhos para o desenvolvimento da comunidade que lhe aconchegou no regaço telúrico.

Sêneca afirmava: “Quem não souber morrer bem, terá vivido mal”. Valeu a pena?, pergunta o vate português Fernando Pessoa, outro imortal: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” Dia 28 de agosto de 1832, a heroína nacional fincou sua morada definitiva no chão do Itaguá. Passados 190 anos, Bárbara e Itaguá, ainda unidos no mesmo corpo quântico-espiritualizado, em comunhão artística, celebrarão a vida que vale a pena para quem soube morrer.

Fonte: O Povo

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