OPINIÃO | A Ford e a urgência de uma reforma tributária responsável

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A saída de uma empresa global como a Ford do Brasil, apesar da trajetória de mais de um século em solo nacional, diz muito sobre o desaquecimento da economia em escala mundial e a diminuição dos investimentos privados. As incertezas vinculadas à durabilidade da pandemia pioram a situação. Mas podemos dizer, sem medo de errar, que o Brasil está padecendo de um mal que nos assombra não é de hoje: a ausência de uma reforma tributária responsável, atenta à nossa extensão territorial e às distorções regionais. Que seja capaz de diminuir a complexidade do sistema tributário, aumentando a competitividade da indústria.

O presidente Bolsonaro chamou atenção, dias atrás, porque justificou o anúncio feito pela montadora como uma incompatibilidade sobre a concessão de subsídios. Como todas as outras empresas que geram divisas e empregos, a Ford usufruiu de incentivos fiscais para chegar até aqui – fosse no ABC paulista, em Camaçari (BA) ou em Horizonte (CE).

Pernambuco, por exemplo, criou um programa estadual, o Prodeauto, para atrair a mais moderna planta da FCA no mundo e suas indústrias fornecedoras, muitas geradoras de mão de obra intensiva. Os números são robustos em todos os sentidos – desde que iniciou suas operações em Goiana, um município que pouco a pouco mudou seu perfil econômico e dos arredores, foram produzidos mais de 900 mil veículos. Com as empresas ancoradas pela Jeep, são mais de 13 mil profissionais trabalhando.

Sabemos que os incentivos fiscais regionais têm sido importantes instrumentos na atração de novos negócios para regiões em desenvolvimento, mas é incontestável a necessidade de seu aprimoramento para ampliar a capacidade de atração, manutenção e ampliação de empreendimentos.Não é à toa que reconhecemos a importância da inteligência fiscal, da aplicabilidade dos princípios da indústria 4.0 e do investimento em qualificação de mão de obra para acompanhar as mudanças que surgem com a necessidade de modernização da tão comentada “quarta revolução industrial”.

Mas a resposta obtida, na prática, tem sido outra: em vez daquela disputa que Pernambuco, Bahia e outros estados protagonizaram 20 anos atrás, para sediar a emblemática planta de Camaçari (BA) que agora fechará as portas, temos uma evidente desindustrialização provocada pela conjuntura incompatível com as necessidades do mercado global. Independentemente dos erros de estratégia da Ford, em particular, como têm apontado diversos especialistas do setor automotivo. Ou da queda de 31,6% na produção de veículos no ano passado, a menor em 17 anos, segundo a Anfavea.

Descomplicar a rotina das empresas, priorizando uma reforma tão necessária como a tributária, é uma importante sinalização ao setor produtivo e condição sine qua non para nos manter na briga dos players globais. Seja para manter montadoras e sua expressiva cadeia de suprimentos ou fomentar startups que nascem numa sala de aula na universidade. Assim, poderemos planejar e executar estratégias compatíveis com a realidade de economias maduras.

Fonte: Diário de Pernambuco

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