Na Grande Fortaleza, renda média per capita dos 40% mais pobres cai para R$ 167

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|EFEITO PANDÊMICO | Em 2019, era de R$ 189. Considerando todos os estratos sociais, rendimento médio per capita na RMF passou de R$ 1.089, em 2019, para R$ 907, em 2021

redução na desigualdade é quase sempre indicativo de melhoria nas condições econômicas de quem tem menos renda, mas a pandemia de Covid-19 produziu um fenômeno incomum, que afetou todas as camadas do estrato social nas regiões metropolitanas do Brasil, incluindo a Grande Fortaleza: uma população menos desigual, mas mais empobrecida.

De acordo com estudo do Observatório das Metrópoles, a capital cearense e as cidades que compõem a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) tiveram uma ligeira queda no principal indicador utilizado no mundo para medir a distribuição desigual de renda, o Coeficiente de Gini. Em cerca de dois anos de pandemia, esse índice passou de 0,629 para 0,621 (quanto mais próximo de zero menor é a desigualdade).

Teoricamente, esse seria um dado positivo, mas isso ocorreu não porque a parcela mais pobre da população que reside na RMF passou a ganhar melhor e, sim, porque a parcela mais rica teve uma perda mais acentuada em sua renda. Na realidade, tanto os 40% mais pobres quanto os 10% mais ricos, bem como os 50% intermediários, tiveram rendimento médio mensal per capita menor, entre o 3º trimestre de 2019 e o 3º trimestre de 2021.

Enquanto, o primeiro grupo teve queda no rendimento médio mensal per capita de 11,64%, passando de R$ 189 para R$ 167, no período analisado, o segundo grupo teve perda maior, percentualmente falando, passando de um rendimento médio mensal per capita de R$ 5.833 para R$ 4.608, ou cerca de 21%, em dois anos. Por sua vez, o grupo intermediário teve menor perda (pouco mais de 4,55%) de renda média mensal per capita em relação aos demais e foi de R$ 946 para R$ 903.

Vale lembrar que rendimento médio mensal per capita é a divisão da soma de todas as rendas dos residentes em determinado domicílio pela quantidade de pessoas que o habitam. Ou seja, em uma casa em que vivam dois adultos e duas crianças, caso os dois adultos ganhem R$ 1.000 cada, ou R$ 2.000 no total, esse valor será de R$ 500, após a divisão entre as quatro pessoas que vivem nela.

Recuperação em 2021 não foi suficiente para repor perdas

Embora haja algumas especificidades regionais, o que acontece na Grande Fortaleza reproduz o que aconteceu nacionalmente, conforme observa André Salata, um dos coordenadores do estudo. “No primeiro ano da pandemia, quem sentiu mais imediatamente o efeito da perda de renda foi a base da pirâmide, ou seja, a população mais vulnerável. Em 2021, houve uma certa mudança porque, conforme o mercado de trabalho foi ganhando força, em função da vacinação, a renda dos mais pobres começa a se recuperar e a dos mais ricos, pelo próprio prolongamento da crise, não acompanha essa recuperação”, explica.

O pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) acrescenta que em crises econômicas convencionais quando a renda média cai, a desigualdade segue aumentando, o que não está ocorrendo no atual contexto. “Quem está perdendo mais, proporcionalmente, são aquelas pessoas que estão mais próximas do topo da pirâmide, a parcela mais rica. Então, com essa perda de renda elas puxam a média geral para baixo, mas, ao mesmo tempo, isso gera uma aproximação com a base, a parcela mais pobre, ainda que a distância entre o que os dois grupos ganhe continue muito grande”, complementa. No caso específico da Grande Fortaleza, contudo, ambos os grupos tiveram recuperação de rendimento.

Apesar da redução na desigualdade na RMF, o rendimento médio mensal per capita dos 10% mais ricos, em 2021, era quase 29 vezes maior que o dos 40% mais pobres. No ano anterior, esse número chegou a ser 32 vezes maior. Em 2019, antes da pandemia, essa razão era de 30, 6 vezes. Entre as regiões metropolitanas brasileiras, a Grande Fortaleza é a 12ª mais desigual.

Estudo

O Boletim Desigualdade nas Metrópoles é produzido pelo Observatório das Metrópoles, em parceria com a Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS) e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL)

Fonte: O POVO

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