CE deve ter neste ano 1º saldo positivo na balança comercial desde 2005

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Expectativas de melhora no quadro da pandemia apontam para recuperação no mercado internacional, o que tende a viabilizar, em 2021, uma virada no panorama da balança cearense, com mais exportações do que importações

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Legenda: Previsão de especialistas é que as exportações cearenses superem as importações
Foto: THIAGO GADELHA

“Historicamente, o Ceará sempre teve uma balança comercial deficitária, mas depois que o Estado criou a ZPE (Zona de Processamento de Exportações) e implantou a CSP (Companhia Siderúrgica do Pecém), cujas vendas são voltadas totalmente para o exterior, esse déficit vem diminuindo e a tendência é que em breve a gente tenha superávits constantes”, projeta Alcântara Macêdo, economista e consultor internacional.

“Nós esperávamos, antes da pandemia, que a nossa balança fosse superavitária já em 2020 mas, infelizmente, o aço sofreu com algumas restrições internacionais. Os compradores buscaram alternativas em outros mercados e isso afetou as nossas exportações”, diz Macêdo.

Em 2016, a balança cearense registrou déficit de US$ 2,2 bilhões, valor que caiu, ano após ano, até a marca de US$ 82 milhões, em 2019. Mas em 2020, que poderia ter sido o ano da virada, o Estado registrou um saldo negativo de US$ 560 milhões, em decorrência do arrefecimento da demanda global.

Macêdo avalia que mesmo com uma recuperação da economia mundial mais lenta do que a esperada, diante do cenário ainda incerto quanto aos efeitos negativos da pandemia, o Estado poderá apresentar um superávit neste ano. “O mercado está se recuperando devagar, mas devemos ter uma abertura maior da economia americana no médio e longo prazos, o que favorece as exportações da CSP. Além disso, o Porto do Pecém vem se destacando cada vez mais nas exportações de frutas e esperamos uma recuperação do setor de calçados (segundo mais importante da pauta de exportação cearense)”, diz o economista. “É possível que o mercado comprador se recupere antes do Brasil, o que estimularia as exportações”.

Países importadores

A mudança de governo nos Estados Unidos, principal parceiro comercial do Ceará, também contribui para a elevação das expectativas, uma vez que o partido Democrata, do presidente Joe Biden, historicamente é menos protecionista do que o partido Republicano de Donald Trump, o que poderá resultar na redução de barreiras ao aço cearense. Além disso, os acordos comerciais firmados no ano passado entre Brasil e Estados Unidos deverão facilitar as transações entre os dois países.

“O Ceará tem um histórico de aproximação com os Estados Unidos. E essas relações comerciais estão acima de questões políticas”, diz Ana Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). “O grande acordo comercial que foi celebrado recentemente entre Brasil e Estados Unidos é focado em três pontos, sendo o principal deles a facilitação do comércio com a redução de barreiras alfandegárias e de procedimentos burocráticos. Então as relações são estratégicas que trarão vantagens econômicas”.

Em 2020, o Ceará reduziu em quase 30% as exportações destinadas aos Estados Unidos, somando apenas US$ 710,2 milhões. Ainda assim, o país foi responsável por 38,3% das vendas do Estado para o exterior. No ano, os principais produtos vendidos aos norte-americanos foram aço, equipamentos para geração de energia eólica, castanha de caju e água de coco.

“Com o novo presidente americano, a gente espera que se evite o protecionismo que tinha no governo Trump, o que deve melhorar ainda mais a movimentação bilateral de minérios e de chapas de aço da CSP”, diz Marcos Soares, diretor de comércio exterior da Fiec. “Além disso, as parcerias no setor de geração de energia renovável devem crescer”, diz. Em segundo lugar no ranking dos principais países de destino das exportações cearense aparece a China, que importou o valor histórico de US$ 247,4 milhões, impulsionado pela procura de produtos do setor siderúrgico e do setor de minérios.

As exportações para o país asiático apresentaram um crescimento de 382,9% em relação a 2019. Outro destaque foi o Canadá, com crescimento de 108,8% nas aquisições de produtos do Ceará, somando US$ 120,2 milhões, sendo os itens à base de aço os principais produtos destinados ao país.

Câmbio

Quanto ao câmbio, que em 2020, girando entre R$ 5,50 e R$ 6,00, tornou os produtos brasileiros mais competitivos no exterior, a expectativa é que, mesmo ficando abaixo de R$ 5,50 ainda seja favorável para as exportações brasileiras em geral. “O dólar hoje está extremamente convidativo para as exportações. E se cair, como é a expectativa de grande parte dos especialistas econômicos, teremos a redução dos preços de matéria-prima e insumos importados”, diz Karina Frota. Para o fim de 2021, o Banco Central projeta o dólar a R$ 5,00.

Quanto às perspectivas para os produtos mais relevantes da pauta cearense, Karina Frota destaca a recuperação do setor de calçados e de pás eólicas, que ficaram entre os mais impactados em 2020. “A expectativa para 2021 é que a recuperação econômica cearense seja tracionada pela internacionalização da indústria. As empresas estão mais fortalecidas e esperamos que tenham condições de recuperar sua competitividade no mercado internacional”.

Em 2020, a participação do Ceará na balança comercial do Nordeste foi de 11,5% enquanto na do Brasil ficou em 0,88%. Por outro lado, as importações cearenses representaram nos âmbitos regional e nacional, 16,74% e 1,52%, respectivamente. Em 2020, o Ceará ficou na 14ª posição entre os estados brasileiros que mais exportaram. Sendo o terceiro maior exportador do Nordeste, atrás da Bahia (US$ 7,826 bilhões) e do Maranhão (US$ 3,365 bilhões).

Diário do Nordeste

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