Nesta segunda-feira (26/8), a Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) realizou uma audiência pública no Complexo das Comissões para celebrar os 200 anos da Confederação do Equador, um dos movimentos mais emblemáticos da história do Brasil.
Na ocasião, também foi lançada, na Alece, a mostra artística “200 anos da Confederação do Equador: um tributo à Bárbara de Alencar”. A exposição é composta por 22 quadros de artistas plásticos cearenses que compõem o coletivo Calçada.20. As obras ficarão expostas à visitação do público, no hall do Memorial da Alece, até o dia 6 de setembro.
Resgate de princípios fundamentais
Na audiência, o deputado De Assis Diniz – autor do requerimento – destacou a importância da celebração do bicentenário como forma de resgatar os valores e princípios fundamentais defendidos pelos confederados.
Diniz enfatizou que o debate sobre a Confederação do Equador é crucial para entender as visões que sustentavam o movimento, que vão além do autoritarismo de Dom Pedro I e da crise dos impostos que motivaram a revolta.
“Há 200 anos, discutíamos liberdade, igualdade e fraternidade. Hoje, mais do que nunca, precisamos refletir sobre esses valores e como eles se relacionam com a verdadeira liberdade, uma liberdade responsável, que não destrói reputações sob o pretexto de liberdade de expressão, como vemos nas redes sociais com fake news e mentiras”, concluiu.
Pouca visibilidade do movimento
Presente à mesa da audiência pública, Liduíno de Brito, diretor-geral da Fundação Sintaf, ressaltou a pouca visibilidade dada ao movimento histórico da Confederação do Equador, apesar de seu caráter de luta e resistência. Ele destacou a importância de discutir as contribuições do movimento para o Ceará, sublinhando que a história é, muitas vezes, escrita pelos vencedores – “neste caso, Dom Pedro I”.
Liduíno lamentou que muitos documentos relevantes de 1824 foram destruídos, o que dificulta uma compreensão completa do movimento. Ele também esclareceu que a Confederação do Equador não teve caráter separatista, mas sim uma reação às tentativas de Portugal de retomar o controle sobre o Brasil. Além disso, destacou a participação de diversos grupos marginalizados, como indígenas, negros e mulheres, destacando as cartas de apoio enviadas ao Padre Mororó pelas mulheres de Quixeramobim. Por fim, ele apontou a necessidade de revisitar a história para valorizar figuras importantes.
“As mulheres de Quixeramobim, por exemplo, enviaram cartas de apoio a Padre Mororó, mostrando a coragem e a contribuição delas para o movimento. É necessário que revisitemos a história e reconheçamos o impacto de figuras como Frei Caneca e outros líderes, em vez de focarmos apenas em heróis mais conhecidos, como Tiradentes”, pontuou.
Resgate dos registros é fundamental
A representante do Arquivo Público, Janaína Ilara, sublinhou que o local ainda preserva registros importantes da Confederação do Equador. “Este ano foi lançada, em dois volumes, uma publicação a respeito que esgotou muito rápido, por meio de parcerias com o Governo do Estado e diversas instituições. Vamos relançar uma nova edição para que mais pessoas possam pesquisar e ter acesso”, informou.
Revisitar a história com perspectiva feminista
O diretor de Cidadania, Inclusão Social e Cultura da Fundação Sintaf, Luiz Carlos Diógenes, também apontou a importância das mulheres na Confederação do Equador, citando Bárbara de Alencar como figura emblemática. “Apesar da destruição de muitos registros, sabemos que Bárbara não estava sozinha e deixou um legado significativo. Documentos preservados mostram que as mulheres de Quixeramobim tinham plena consciência política e estavam prontas para lutar, adotando até nomes de resistência. No entanto, a história, escrita pelos vencedores, apagou esse protagonismo feminino. É essencial revisitar essa história com uma perspectiva feminista para valorizar essas contribuições esquecidas”, sugeriu.
O papel vanguardista de Bárbara de Alencar
A Diretora do Departamento de Integração Sindical da Fenafisco, Helena Bezerra, esteve presente na mesa, representando a Federação. Em sua participação, ela também destacou o papel crucial das mulheres na Confederação do Equador, em especial o de Bárbara de Alencar. “É importante falar do papel de vanguarda, protagonizado por Bárbara de Alencar, uma mulher rica, proprietária de terras, que colocou os filhos no movimento, consciente das consequências que eles poderiam enfrentar. Essa é apenas uma das muitas histórias das mulheres sertanejas que participaram da luta. Imagino quantas outras ficaram invisibilizadas nesses processos”, refletiu Helena.
A contribuição do Memorial da Alece
O coordenador do Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Malce), Paulo Roberto Nunes, enfatizou a importância de relembrar e comemorar a Confederação do Equador, mencionando Bárbara de Alencar como uma de suas precursoras. “O Memorial tem uma atribuição relevante nesse contexto, sendo responsável pela manutenção e desenvolvimento da história e cultura do Poder Legislativo, que completará 200 anos no próximo ano.”
Nunes também enfatizou o apoio à exposição “200 anos da Confederação do Equador: um tributo à Bárbara de Alencar”, iniciativa do coletivo de artistas visuais Calçada 2.0, com o apoio da Fundação Sintaf e do Sindicato dos Fazendários do Ceará (Sintaf).
A exposição, que antecedeu a audiência pública, foi aberta nesta segunda-feira e segue até o dia 6 de setembro, no hall do Memorial, para que mais pessoas tenham a oportunidade de visitar, inclusive os alunos que visitam a Assembleia por meio do projeto “O Parlamento e Sua História”.
* Com informações da Alece e da Fenafisco