▪ Por Luiz Carlos Diógenes, Diretor de Cidadania, Inclusão Social e Cultura da Fundação Sintaf.
O marco temporal de notoriedade pública e incursão na história do Brasil, pertinente à heroína nacional Bárbara Pereira de Alencar, é, sem sombras de dúvidas, o ano de 1817. O sol da curta República do Cariri cearense cedo submergiu nas entranhas da Chapada do Araripe, escurecendo de vez o teatro da insurreição nordestina daquele ano. Nada foi em vão, todavia! Os seis dias de sublevação contra o despotismo mandonista imperialista, pisados no fértil solo caririense, ainda reverberam, por tambores arquetípicos que não se deixam emudecer.
Sementes emancipacionistas, lançadas ao vento, mesmo em tempos de estio tirânico, sempre descem ao chão. Em dormência resiliente, germinam no futuro invernoso. A florada da utopia republicana de Bárbara de Alencar rebentou nos manifestos críticos das mulheres liberais de Icó e de Quixeramobim, em 1824. Lutando contra o reinado político, Bárbara de Alencar também estava lutando contra o reinado de gênero do patriarcado. Tanto no plano político-ideológico, quanto ético-cultural, Bárbara abalou o mandonismo político, moral e cultural, naturalizado na estrutura coronelística nordestina.
Se Bárbara, hoje, pode ser espelho ao movimento feminista, por ocasião da Confederação do Equador no Ceará, mulheres sertanejas, num lampejo de ético empoderamento feminista e de cidadania política, corajosa e publicamente adotaram cognomes de guerra nativista, desafiando a misoginia e instigando os homens à luta. Consciente ou inconscientemente, a escola de Bárbara doutrinou mulheres para a cidadania, para a luta por igualdade de gênero. Invisibilizadas Patativas, Canindés, Macaúbas e muitas outras se insurgiram.
Quais as(os) vencidas(os) da Confederação do Equador? A história oficial, memoricida, foi e é contada pelos homens vencedores. O imperialismo reinol amplificou sua voz e versão no reacionário patriarcado imperialista. As mulheres do fundão do Ceará, depois de ensaiarem um movimento de empoderamento emancipacionista, manifestada nas cartas ao Pe. Mororó, redator do primeiro jornal cearense, recolheram-se ao estio infértil de suas cozinhas e camarinhas.
Fonte: O Povo.