|EM FORTALEZA| Grupo de produtos e serviços teve alta maior que a da inflação no 1º semestre de 2022, mas segmento de alimentação fora do lar segura repasses para não perder clientela
Tendo a segunda maior alta em Fortaleza no 1º semestre de 2022, de 6,9%, o grupo de alimentos e bebidas tem impactado o bolso do consumidor que vai ao supermercado, mas também sido um desafio para os empreendimentos de alimentação fora do lar, tais como bares e restaurantes.
Ainda ensaiando uma recuperação econômica, após as restrições às atividades decorrentes da pandemia de Covid-19 que marcaram, principalmente, o 2º e o 3º trimestres de 2020 e o 1º semestre de 2021, o segmento tem buscado, em geral, evitar repasses à clientela, reduzindo margens de lucro, mas esbarra no alto endividamento, contraído durante os piores momentos da crise sanitária, e na elevação dos preços de alguns dos insumos básicos que compõem o prato do fortalezense.
Nesse sentido, de acordo com a mais recente divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cinco subitens do grupo alimentos e bebidas, acumulam alta no ano acima dos dois dígitos. A maior delas é verificada entre tubérculos, raízes e legumes, que subiram 23,5% no primeiro semestre de 2022. Já óleos e gorduras ficaram 21,24% mais caros. Os dois insumos entram, por exemplo, na composição de um dos petiscos mais consumidos na Capital e no mundo, a batata frita.
Não à toa, a inflação da alimentação em Fortaleza ficou acima da inflação geral registrada na cidade nesse período, que foi de 6,34%. Por outro lado, a chamada alimentação fora do lar (ou do domicílio) teve alta mais modesta de 2,81%. O dado do IBGE encontra ressonância em pesquisa divulgada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel-CE) que apontou um índice de 73% dos estabelecimentos do setor praticando reajustes abaixo da inflação ou, simplesmente, sem repassar custos.
Outros 24% dos estabelecimentos do setor fizeram reajustes apenas de recomposição da inflação e apenas 2% aumentaram o preço de seus pratos e bebidas acima dela. A pesquisa da entidade revelou ainda que para 71% das empresas do segmento de alimentação fora do lar que apontaram ter tido prejuízo a alta dos insumos contribuiu para o desempenho negativo, mesmo índice dos que citaram dívidas com empréstimos bancários.
“Os números mostram que o aumento de faturamento não é sustentável, porque a conta que pagamos na pandemia continua chegando. O empreendedor do nosso ramo não recebeu nenhuma ajuda e acabou se endividando, como confirma a pesquisa”, afirma Taiene Righetto, presidente da Abrasel no Ceará, ao acrescentar também que 69% das empresas do segmento têm empréstimos contratados.
A pesquisa da Abrasel revela ainda que 13,6% do custo mensal desses estabelecimentos, em média, estão comprometidos com o pagamento de empréstimos. Entre os bares, restaurantes e similares que tomaram empréstimo de linhas regulares, 26% têm parcelas em atraso, e dos que aderiram ao Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) esse número é de 13%.
Mas se a situação já é de aperto para os grandes estabelecimento do setor, segundo a presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Silvana Parente, a inflação dos alimentos tem ampliado as dificuldades para os pequenos negócios do ramo.
“O preço da alimentação fora do lar ter aumentado menos do que a inflação dos alimentos se deve a estratégia dos restaurantes e bares de tentar adaptar o seu cardápio ou comprar em grande quantidade para reduzir custos”, pontua.
“Contudo, essa estratégia nem sempre é possível de ser feita por parte das micro e pequenas empresas do setor. Muitas vezes, elas precisam reduzir quantidades para não perder a clientela”, acrescenta a economista.
Para as famílias que não têm como consumir refeições fora de casa, o quadro é ainda mais desolador, especialmente considerando altas expressivas de itens alimentícios básicos, segundo Silvana Parente.
“Inflação de alimentos maior do que a inflação média, conjugada com a queda do rendimento real da população significa endividamento e ampliação de pobreza”, conclui a presidente do Corecon-CE.
Grupo de produto ou serviço
Tubérculos, raízes e legumes: 23,50%
Óleos e gorduras: 21,24%
Panificados: 17,85%
Frutas: 13,66%
Leites e derivados: 11,81%
Farinhas, féculas e massas: 8,63%
Sal e condimentos: 8,07%
Enlatados e conservas: 7,89%
Bebidas e infusões: 6,89%
Aves e ovos: 6,78%
Hortaliças e verduras: 6,64%
Pescados: 5,79%
Açúcares e derivados: 4,14%
Alimentação fora do lar: 2,81%
Carnes e peixes industrializados: 2,78%
Carnes: 1,68%
Cereais leguminosos e oleaginosos: -0,61%
*Percentuais verificados em Fortaleza entre janeiro e junho de 2022, na comparação com período equivalente de 2021
Fonte: O Povo