‘A gente está no básico do básico’: consumo das famílias cearenses cai 11,8% em 12 meses

169

Consumidores reduziram consumo de itens de alimentação, produtos de higiene e lazer

A inflação levou muitos cearenses a irem mais vezes ao supermercado, mas a voltarem com cada vez menos itens no carrinho.

Essa realidade impactou diretamente no consumo das famílias, como mostra um estudo do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Ceará (IPDC) obtidos com exclusividade pelo Diário do Nordeste.

Segundo dados da pesquisa, o consumo das famílias caiu 11,8% em 12 meses encerrados em agosto, sendo 4,1% apenas em agosto de 2021, comparado com igual período de 2020.

É o caso da dona de casa Maria Luiza de Souza, 56. Ela conta que o consumo da família reduz desde 2016, mas piorou com o agravamento da pandemia de Covid-19.

O marido dela, o aposentado João de Fatimo Mareano, 68, adoeceu e a família perdeu cerca de 80% da renda.

“Ficou praticamente com a aposentadoria, e a gente teve que reduzir drasticamente nosso consumo, tivemos que diminuir as contas. O habitual da gente foi reduzido drasticamente. A gente já não saía muito para jantar nem almoçar fora, lazer realmente zerou”, relata.

No último ano, o casal juntou as finanças para tentar cobrir as despesas de alimentação e medicamentos. Alguns produtos precisaram ser cortados do orçamento ou substituídos para as contas fecharem.

Segundo ela, foram reduzidas as despesas com transporte, vestuário e alimentação e, mesmo gastando mais, o que entra em casa é menos a cada mês.

A carne foi praticamente cortada da alimentação e mesmo o frango está mais escasso.

A gente está no básico do básico. Até produto de limpeza e higiene a gente está comprando menos. A marca que a gente usa é a que dá

MARIA LUIZA DE SOUZA

Dona de casa

A alternativa para economizar foi buscar promoções em diferentes supermercados semanalmente. Quando consegue, Maria faz bicos de costura para conseguir dinheiro a mais, o suficiente para comprar um biscoito ou um sorvete para adoçar o mês.

ITENS DA PESQUISA

As principais quedas no período de janeiro a agosto deste ano foram em livros, revistas e papelaria (- 28,6%), hipermercados e supermercados (-7,1%) e produtos alimentícios (-8%).

Considerando o período de 12 meses, o consumo das famílias foi reduzido em livros, revistas e papelaria (-20,6%), produtos alimentícios (-4,7%) e supermercados e hipermercados (-3,7%).

Na contramão das quedas, o segmento de veículos e motocicletas teve alta de 38,3% no acumulado de 2021.

Material de construção e tecidos, vestuário e calçados registraram crescimento de 38,3%, 24,3% e 13,8%, respectivamente.

MAIS IDAS AO MERCADO, MENOS COMPRAS

Conforme o presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Nidovando Pinheiro, as famílias no Ceará têm ido mais vezes ao supermercado e comprado menos itens.

Os dias com maior demanda nos estabelecimentos são os dias de oferta, e a procura tem sido maior para marcas não tão conhecidas.

Ele afirma que esse movimento se intensificou a partir de julho deste ano, levando a uma queda nas vendas.

“As pessoas tem buscado substituir alguns produtos que tiveram um reajuste muito alto. O poder de compra tem reduzido muito, o dinheiro tem ficado mais difícil”, percebe.

“A gente vem trabalhando junto às indústrias tentando que as indústrias não repassem os reajustes, tentando negociar às vezes um volume maior para que não repasse os aumentos. Temos nos unidos às cooperativas de compra para negociar, mesmo com recebimento mais para frente, para conseguir ficar com preço e não repassar o reajuste”, ressalta.

Apesar da proximidade do fim do ano, com Natal e Ano Novo, o sentimento do setor é de preocupação, motivado pelo desemprego e pela falta de otimismo na reação do mercado.

QUEDA NA QUANTIDADE

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves, destaca que, apesar de em valor as vendas estarem superando as cifras do ano passado, o setor está registrando queda na quantidade de unidades vendidas.

O impacto é sentido, sobretudo, em produtos com maior valor agregado, como os eletrodomésticos de uma forma geral.

Segundo ele, o setor sente esse movimento desde o início do ano, quando o auxílio emergencial passou de R$ 300 (e R$ 600 para mães de família) para o valor atual, entre R$ 150 e R$ 375.

Ele também chama atenção para a dificuldade de obtenção de matéria prima e o maior custo para as importações devido ao dólar mais caro e a problemas logísticos na cadeia internacional.

Essas questões aumentam o custo dos lojistas e enfatizam o problema do poder de compra da população.

Apesar do impacto em alguns segmentos, o setor tem conseguido se recompor com as vendas de produtos de menor valor agregado.

“O que acontece é que outros setores estão vendendo bem. Confecções e calçados estão avançando. Os produtos são de valores menores e as vendas nos produtos de valores menores estão bem. De uma forma geral há uma compensação”, resume.

A expectativa é boa para as compras de fim de ano e Black Friday. “É o nosso período de salva-vidas porque a gente tem despesas dobradas no final do ano. Black Friday deve ser fantástico e o Natal deverá ser muito bom”, espera.

Fonte: Diário do Nordeste

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here